Título: Buratti: 'Não tenho dúvida da honestidade do ministro'
Autor: Vera Rosa, Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2005, Nacional, p. A4

Ex-assessor, que quer ser esquecido pela mídia, afirma que Palocci cometeu pecado da omissão, mas é 'competente e sério'

O advogado Rogério Buratti decidiu amenizar as acusações contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de quem foi assessor na prefeitura de Ribeirão Preto. Agora o ex-petista diz que Palocci, embora tenha cometido o pecado da omissão, é "honesto, competente, inteligente e sério". Buratti não vai mais denunciar seus antigos aliados; quer cuidar de seus negócios e ser esquecido pela mídia. Mas alertou que não ficará calado se lhe forem atribuídas denúncias de irregularidades que não cometeu. O que aconteceu para o senhor tomar esta decisão?

Não estou exercendo papel de delator para desestabilizar este ou aquele governo. O que fiz foi confirmar os fatos que presenciei e nos quais fui acusado injustamente, como no processo do lixo e na história da Gtech.

Injustamente?

Sim. Por anos foram atribuídas a mim irregularidades que não cometi. Saí do PT há mais de 10 anos e continuei sendo acusado do mesmo jeito. Só falei o que sabia porque fui muito prejudicado, sem ter culpa.

Mas o senhor foi preso.

Injustamente, mas fui obrigado a falar porque houve omissão por parte de pessoas que sabiam dos fatos e ficaram caladas. Não tenho nenhum processo judicial contra mim, nunca fui pego transportando recursos arrecadados, fazendo tráfico de influência ou outro ato de corrupção. Apenas falei daquilo que tinha conhecimento, mas agora não tenho mais informações a passar para o Ministério Público. O que tinha de falar eu já falei, mas, se me acusarem de novo de coisas que não fiz, vou falar o que sei.

Então o sr. sabe de mais coisas?

Fui do PT e presenciei muitas coisas. Se for acusado por episódio do qual não participei e tiver informações sobre ele, vou falar o que sei. Muitas coisas? Não sei de muitas coisas.

O que o senhor acha de uma possível saída de Palocci?

Vai atingir extremamente o governo, porque sem dúvida é o ministro que tem maior seriedade, competência, inteligência e habilidade do governo federal. Faz parte do processo que derrubou José Dirceu e depois Gushiken.

O senhor acha que ele é honesto?

Não tenho dúvidas da honestidade do Palocci.

Mas a omissão não foi dele?

Não só dele. Ele tinha conhecimento e foi hermético para esclarecer. Ele e o governo foram herméticos e demoraram em dar explicações depois da incidência de tantas denúncias.

Por isso o senhor resolveu falar?

O problema é que tudo que circulou contra ele depois da minha prisão foi atribuído a mim. Mas eu não inventei histórias e para me defender eu apenas relatei coisas que presenciei. Desde 1994, quando deixei formalmente o PT, são atribuídas a mim coisas que não fiz. E me tornei um sujeito obscuro.

Então passou a delatar?

Não sou delator. O problema é que minha prisão forçou uma pressão muito grande e estava cansado de ser obscuro e acusado de ser responsável por todas as denúncias que apareceram. Decidi contar o que presenciei.

Agora vai parar?

Não se trata de parar. Não tenho mais informações a dar ao Ministério Público e agora revistas semanais atribuem a mim informações que não passei. Não estou em processo de denúncia e também não sou um agente provocador de crise de governo. Apenas vou me defender, porque só presenciei os fatos, nunca os pratiquei.

E o seu futuro?

Quero apenas cuidar da minha vida e dos negócios, em Belo Horizonte e Rancharia (SP).