Título: Bastos manda PF proteger acervo de Sarney
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2005, Nacional, p. A23
BRASÍLIA - A disputa política local entre o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) e o governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares, depois de entrar em debate no plenário do Senado, na quinta-feira, chegou à esfera nacional com a mobilização da Polícia Federal para proteger o acervo de 500 mil documentos da Fundação José Sarney. A ordem do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, atendeu a pedido do ex-presidente, que teme danos ao acervo depois que a Assembléia Legislativa aprovou lei que desalojou a fundação do prédio histórico Convento das Mercês, tombado pela Unesco. O governador José Reinaldo teve papel decisivo na aprovação da lei pelos deputados, em um ato que Sarney chamou de inconstitucional e ¿mesquinha vingança¿.
O ex-presidente não se conforma com o contexto criado pelo governador, para dar a impressão de que ele, Sarney, se beneficiou pessoalmente com a doação de um bem público. O que mais o aborreceu foi a divulgação da informação, que afirma ser falsa, de que teria reservado no terreno das Mercês uma área para seu próprio mausoléu.
¿Não existe mausoléu ali¿, assegurou Sarney ao Estado, contando que, por ser membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), tem direito a ser sepultado no Cemitério S. João Batista.
¿Serei enterrado no mausoléu da Academia, com todos os nossos mortos, ao lado do imortal Machado de Assis.¿ Ele se disse ¿amargurado com tudo isso¿ e lamentou que sua preocupação em preservar ¿parte da história brasileira¿ tenha se tornado motivo de uma disputa provinciana.
A iniciativa da fundação foi tomada por Sarney quando deixou a Presidência, em 1990, inspirado no exemplo dos presidentes americanos. Além dos documentos de sua administração, Sarney doou à fundação obras de arte, manuscritos e edições raras de autores seminais da língua portuguesa, como um sermão manuscrito do padre Antônio Vieira, o manuscrito de Espumas Flutuantes, de Castro Alves, e a raríssima Edizione Testina, de Maquiavel, impressa em 1514, além dos 40 mil volumes da sua biblioteca pessoal.
A preocupacão de Sarney deu seqüência a iniciativas como as que criaram o Memorial JK, em Brasília, o memorial de Tancredo Neves, em Juiz de Fora, e mais recentemente o Instituto Fernando Henrique Cardoso, no qual o ex-presidente reuniu todos os documentos produzidos nos seus dois mandatos. No Brasil ainda há o acervo do presidente Wenceslau Braz, em Itajubá. Sobre os outros presidentes brasileiros, pesquisadores e historiadores são obrigados a buscar informações espalhadas no País e até no exterior.
Sarney afirmou que a lei aprovada pela Assembléia é inconstitucional e tentará anulá-la na Justiça. pela lei, a fundação terá prazo de 30 dias para mudar de lugar. Segundo o ex-presidente, José Reinaldo havia retirado a guarda policial que fazia a segurança do Convento das Mercês. ¿Ele está destruindo os museus de São Luís¿, acusou, insistindo em que a fundação foi criada ¿para o povo brasileiro¿, é financiada por recursos privados e administrada por um conselho do qual ele não faz parte. ¿Eu poderia ter vendido muita coisa, como Getúlio Vargas vendeu. Posso dizer com orgulho que nenhum presidente fez o que eu fiz ao reunir esse acervo.¿