Título: Mais um aliado de Palocci é acusado de cobrar propina
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2005, Nacional, p. A19

Empresário diz que Nelson Augusto propôs obter financiamento do BNDES desde que ele repassasse metade do valor ao esquema

O empresário Márcio Antônio Francisco, de Ribeirão Preto, acusou Nelson Rocha Augusto, secretário de Planejamento da prefeitura de Ribeirão na gestão Antonio Palocci e atual presidente da BB-DTVM, corretora de títulos e valores do Banco do Brasil, de lhe oferecer empréstimos do BNDES mediante um ¿pedágio¿ de 50%. A gorda comissão, disse ele à revista IstoÉ/Dinheiro que chegou ontem às bancas, iria para o esquema político de Palocci. Nelson Rocha Augusto disse ontem ao Estado que as acusações de Márcio são inverídicas, ¿não têm pé nem cabeça¿, e que não o vê desde 1998, quando esteve com ele pela última vez, ainda como diretor do Banco Ribeirão Preto, ocasião em que Márcio pediu um empréstimo e o banco recusou. ¿Acho que ele não gostou muito da recusa¿, alega. Nelson diz que está pensando em processar Márcio.

EXPORTAR CACHAÇA

Márcio, que é dono da fábrica de cachaça Palmeirinha, contou à revista que em 2001 precisava levantar R$ 1,5 milhão para ampliar os negócios e iniciar a exportação do produto para a Europa. Procurou o consultor Ivan Leme de Sant¿Anna, ex-diretor do Banco Ribeirão Preto e então dono de um escritório de contabilidade, que lhe teria dito saber de um esquema montado pelo banco com Nelson e Palocci, então prefeito de Ribeirão, no BNDES.

No primeiro momento, Ivan adiantou já ter uma fábrica de bebidas para Márcio comprar ¿ a Indústria de Bebidas Cravinhos, que pertencia a Jair Coelho, empresário de coleta de lixo e fornecedor de ¿quentinhas¿ para os presídios do Rio, já falecido. Três dias depois da primeira conversa, relata ele à revista, Ivan o convocou para dizer que estava tudo pronto para o empréstimo do BNDES.

Os R$ 5 milhões seriam repartidos assim: R$ 2,5 milhões para Márcio, R$ 2,2 milhões para o ¿esquema¿ de Nelson e Palocci, e R$ 300 mil seriam a comissão de intermediação de Ivan. Além disso, Márcio teria de abrir uma construtora ¿no papel¿ para fornecer notas frias para a Leão Leão, cujos contratos de coleta de lixo com a prefeitura hoje são investigados pelo Ministério Público.

Ivan teria informado a Márcio que o esquema funcionava com aval de Palocci, que agilizava as liberações dos empréstimos no BNDES. Segundo Márcio, o intermediador lhe contou que a empresa Timbalada, um fabricante de refrigerantes de Ribeirão, já tinha recebido empréstimo em situação idêntica.

Márcio, então, registrou o contrato social da construtora que só funcionaria no papel e Ivan assinou como testemunha. Márcio relata que, na época, teve várias conversas com Isabel Ferreira Leão, acionista da Leão Leão. Numa delas, Isabel lhe teria contado que precisava de R$ 2 milhões por mês em notas frias e detalhou que a Leão Leão lhe pagaria 3% do valor de cada nota.

Márcio fez as contas e concluiu que o esquema era desvantajoso. Do empréstimo, ficaria com R$ 2,5 milhões e teria de pagar R$ 5 milhões; nas notas frias, ganharia 3% do valor, mas já estaria devendo pelo menos 14% ou 15% de tributos.

Márcio assegura que em 2003 Nelson voltou a insistir no negócio, revelando que, à época, com Palocci já ministro, o empréstimo do BNDES seria muito mais fácil. O presidente da BB-DTVM também teria garantido já ter feito o mesmo negócio para outras empresas.

Em abril de 2003, segundo o relato de Márcio à revista, ele teve um novo encontro com Nelson, do qual também teria participado Ermes Stabile Júnior, hoje diretor do Banco Ribeirão Preto. No encontro, Nelson renovou o incentivo ao empréstimo do BNDES. Ele relata também que, à época, contou o caso para oito pessoas que, segundo ele, podem agora testemunhar em favor de sua denúncia.