Título: Investigações estão criando regime de terror, diz Dirceu
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2005, Nacional, p. A14

Ex-ministro acusa CPIs, MP e imprensa: ¿Começamos a viver no País a lei do suspeito; é suspeito, está condenado, é a lei¿

À beira da degola, o deputado José Dirceu (PT-SP), afirmou ontem que o País começa a viver situação semelhante ao Terror da Revolução Francesa (1793/94), quando foram executadas sumariamente ¿ guilhotinadas ¿ 20 mil pessoas suspeitas de ação contra-revolucionária. ¿Começamos a viver no País a lei do suspeito. É suspeito, tá condenado, é a lei¿, declarou Dirceu a cerca de 25 prefeitos e deputados estaduais paulistas reunidos em solidariedade a ele, reclamando da forma como surgem e são apuradas as denúncias contra o governo Lula e o PT. À noite, em ato com a presença de mais de 600 pessoas na Câmara Municipal, declarou que a oposição e as ¿forças conservadoras¿ usam a tática do ¿Estado de Sítio às avessas¿ para tentar impedir o presidente de governar. O que está em jogo, discursou o deputado, não é seu mandato, mas a luta histórica do povo brasileiro contra as ¿forças reacionárias¿. ¿Os golpes militares, as cassações sempre foram feitos para deter o avanço das instituições democráticas¿, afirmou Dirceu. Agora, ¿não são necessários tanques, golpes¿, a ¿luta está sofisticada¿, disse, atacando o que chama de perseguição da mídia. Para o ex-ministro da Casa Civil, ele e o PT ¿subestimaram¿ o poder e o papel da imprensa na crise.

Na platéia, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, dirigentes do PT e dos partidos aliados ao governo Lula, familiares de Dirceu a até Herwin de Barros, que trabalhava no Dops e ajudou a prendê-lo em 1968. Do lado de fora da Câmara, integrantes da ONG Educa São Paulo distribuíram 135 pizzas em protesto contra a corrupção. Aliados do ex-ministro prometeram ir às ruas contra sua cassação e dos outros cinco deputados petistas que correm o risco de perder o mandato. ¿Prejulgamento, linchamento político, jamais vou aceitar¿, afirmou Dirceu. ¿Não há prova contra mim.¿ A Câmara deve votar seu processo de cassação na semana que vem ou na próxima. Seja qual for o resultado ¿ ele ainda se disse otimista ¿ prometeu seguir atuando na política, militando no PT.

Para o deputado, as leis do País têm sido sucessivamente desrespeitadas. A ¿autoprorrogação¿ da CPI do Mensalão seria exemplo disso, assim como o fato de a CPI dos Bingos investigar temas sem relação com seu objetivo original. ¿O que estamos vivendo no País é a inversão do ônus da prova e a presunção de culpa¿, disse o deputado, responsabilizando mais uma vez os partidos de oposição ao governo Lula, interessados na disputa eleitoral de 2006, parte da mídia e do Judiciário, em especial o Ministério Público. ¿Há uma condenação que só existe em tiranias, em regimes de exceção, ditaduras militares, aonde não existe Estado de Direito.¿ E isso pode ¿se voltar contra a própria imprensa, vai se voltar contra a própria oposição¿, ressaltou, sem negar a necessidade de investigar as denúncias e punir os responsáveis. Reclamou da ¿devassa ilegal¿ promovida pela oposição na vida de seus familiares e amigos e da atuação do Ministério Público contra seu filho, Zeca Dirceu, prefeito de Cruzeiro do Oeste (PR), acusado de tráfico de influência.

Segundo Dirceu, se levadas à outras instituições o que está ocorrendo com o PT ¿a Igreja Católica nem existiria¿. São dois mil anos de Igreja, disse, com tantos erros e ¿barbaridades cometidas¿ e nem por isso a Igreja foi abandonada.¿Não tenho mágoa, não tenho cobrança a fazer a ninguém. O governo e o presidente Lula não têm obrigação de me defender¿, declarou. Ele nega que pretenda ocupar cargo na direção do PT, e prometeu se submeter ao julgamento interno, que pode levá-lo à comissão de ética da sigla.