Título: Tarifas vão segurar inflação de 2006
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

De vilões, os preços administrados ¿ tarifas de energia elétrica, telefonia e gasolina ¿ serão os mocinhos da inflação de 2006, refletindo os vários meses de deflação registrada pelo Índice Geral de Preços (IGP) ao longo deste ano. Já os preços livres, sobretudo os dos alimentos, deverão voltar a pressionar o custo de vida, exatamente o contrário do que ocorreu em 2005. O custo de vida do brasileiro medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é o indicador do regime de metas de inflação adotado pelo Banco Central (BC), deve subir 4,7% em 2006, segundo projeções do mercado. Neste ano, a inflação acumulada pelo mesmo indicador deverá atingir 5,6%.

¿Toda a queda da inflação de 2005 para 2006, de quase um ponto porcentual, virá dos preços administrados¿, prevê o economista-chefe da Concórdia Corretora Seguros, Elson Teles. Nas suas contas, o grupo dos preços administrados deve aumentar 4,5% no ano que vem, ante uma alta de 8,8% em 2005.

Levando-se em conta que os preços administrados pesam cerca de 30% no IPCA e os livres 70%, o economista conclui que a contribuição dos grupos no indicador, que é a variação ponderada pelos pesos, aumenta de 2,97% em 2005 para 3,3% em 2006 nos preços livres.

Enquanto isso, a contribuição dos preços administrados para o índice global de inflação cai de 2,59% em 2005 para 1,4% em 2006. O recuo de 1,2 ponto porcentual dos preços administrados no período corresponde à queda do IPCA de um ano para outro, observa Teles. Entre os fatores que o economista levou em conta para chegar a esses números, ele aponta o efeito da menor variação dos IGPs, que são os indexadores das tarifas de energia elétrica e de telefonia. Diante de vários meses consecutivos de deflação neste ano e da desaceleração do IGP-M em novembro, a expectativa é de que o indicador feche 2005 abaixo do menor saldo da história do índice, obtido em 1998, que foi de 1,78%.

Teles prevê também um índice menor de reajuste para as tarifas de transporte público e de água e esgoto para o próximo ano. Em 2004, observa, houve eleições municipais e não ocorreram reajustes, que se concentraram neste ano, o que não deve ocorrer em 2006. Além disso, o economista considera a hipótese de reajuste próximo de zero para a gasolina em 2006, ante aumento de 8% registrado neste ano. ¿Hoje, o preço doméstico da gasolina está acima da cotação internacional.¿

Esse cenário é endossado por Fábio Silveira, sócio da MSConsult, que prevê até a possibilidade de redução no preço do combustível no próximo ano. ¿Apesar da alta do dólar prevista para 2006, o preço da gasolina não terá repique no mercado interno e pode ser que até encolha um pouco.¿ Silveira argumenta que não há pressões de alta na cotação do petróleo e que os estoques de gasolina nos EUA estão normalizados.

Ao contrário do que ocorreu este ano, os preços livres deverão voltar a pressionar a inflação em 2006, mas nada que possa levar a um descontrole da inflação. ParaTeles, a inflação dos preços livres passa de 4,2% em 2005 para 4,8% em 2006.

¿O grupo alimentação foi beneficiado pela forte apreciação cambial e isenção tributária de produtos da cesta básica e não deverá repetir no ano que vem variação tão baixa quanto a deste ano¿, diz. Neste ano, os preços dos alimentos subiram 1,5%. Ele calcula que esse grupo de preços deverá aumentar entre 3,5% e 4% em 2006. A perspectiva de alta do dólar aliada à oferta mais apertada de alimentos de consumo doméstico, como o arroz, explicam esse movimento.