Título: Lula abre temporada eleitoral e sugere mudanças na economia
Autor: Tânia Monteiro , Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2005, Nacional, p. A4

Em entrevista a emissoras de rádio, presidente defende Palocci, mas diz que quer ¿consertar para melhor¿ a política econômica

BRASÍLIA - Em entrevista coletiva para representantes de nove rádios, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou discurso de candidato. Lula acenou com mudanças na política econômica que contrariam o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e assumiu pela pela primeira vez que em 2006 vai disputar a reeleição ¿ embora tenha dito depois que tal afirmação foi um ¿lapso¿. Não por acaso, a entrevista ocorreu no mesmo dia em que o PSDB realizava sua convenção nacional igualmente em clima eleitoral, numa espécie de antecipação da campanha do ano que vem. Depois de passar a semana inteira evitando ser enfático na defesa de Palocci, Lula declarou: ¿Ele é e vai continuar sendo meu ministro da Fazenda.¿ Também classificou a política econômica como ¿muito exitosa¿ e disse que tem ¿orgulho¿ dela, mas contou que trabalha ¿todo santo dia com a certeza de que nós vamos consertar para melhor a política econômica¿.

Lula assegurou que o superávit será mantido em 4,25%. Só que Palocci queria que o presidente deixasse claro que o governo não vai negligenciar no ajuste fiscal, o que não ocorreu. Em outro momento da entrevista, Lula garantiu que ¿não haverá gastança¿ em 2006, ano eleitoral. ¿Meu compromisso não é com próxima eleição, é com a próxima geração.¿

Apesar de evitar responder de que lado está na disputa entre os ministros Palocci, que defende o aperto dos gastos, e Dilma Rousseff, da Casa Civil, que quer liberação dos recursos, o presidente Lula afirmou que está ¿do lado do povo brasileiro, do lado daquilo que for melhor para o povo¿. Mas confessou: ¿Eu gosto de tensionar as disputas.¿

Lula explicou que, para formar opinião, nunca ouve um único economista e lembrou que a divergência, que considera ¿normal¿, só existe na democracia. Para ele, ¿é totalmente maluca¿ a interpretação da imprensa de que, ao elogiar Dilma, no discurso de anteontem, estava fazendo isso em detrimento a Palocci.

¿Palocci é um ministro extremamente importante para o governo, a Dilma é uma ministra extremamente importante para o governo, houve uma divergência por conta de uma tese ¿ que não é uma política de governo ¿ apresentada pelo Ministério do Planejamento sobre uma política fiscal de longo prazo¿, afirmou. ¿Quando eles terminarem o debate, trarão à minha mesa e, junto com a Comissão de Política Econômica, nós pegamos essa tese, transformamos em uma política pública do governo e, aí, Dilma, Palocci, o presidente Lula, todos passarão a defender a política definida.¿

Lula insistiu que ¿não se preocupa¿ com as divergências e que as considera ¿salutares¿, mas ¿até que esse comportamento não prejudique a totalidade e o conjunto do governo¿. E deu um recado: ¿Tenho absoluta convicção da importância do Palocci, da Dilma e dos ministros no meu governo, tenho absoluta confiança de que os dois são companheiros da maior lealdade e do maior compromisso com o povo brasileiro, portanto você pode ficar certo de que, dessa divergência, sairá algo muito melhor para o Brasil.¿

JUROS

O presidente fez questão de explicar os diferentes papéis de Dilma e Palocci. ¿A Casa Civil é uma espécie de sala de espera dos ministros que querem questionar, que querem cobrar, que querem começar a discutir novos projetos, que querem mais dinheiro para fazer os projetos.¿ Segundo ele, Dilma ¿passa o dia inteiro recebendo ministros querendo mais obras¿ e é ¿a encarregada¿ de trazer as queixas para sua mesa.

Já o ¿papel do Palocci¿, continuou o presidente, ¿é o de qualquer tesoureiro, de qualquer pessoa responsável pelas finanças em qualquer lugar do mundo¿. ¿O papel do Palocci é tentar segurar ao máximo porque ele sabe que, se não segurar, a vaca vai para o brejo.¿

¿O equilíbrio entre a nossa necessidade, a nossa vontade, a vontade de um ministro e a disposição e a disponibilidade de liberar recurso é que permite que a gente tenha uma política de gastos justa, sem repetir erros que historicamente foram cometidos no Brasil¿, disse o presidente, que fez mais elogios ao titular da Fazenda, que é médico. ¿Palocci é um ministro da minha inteira e total confiança e o Brasil deve muito a ele. Não sei se um economista conseguiria fazer o que o Palocci fez na política econômica.¿

Para ele, se Palocci for convidado para a CPI do Bingos, irá. ¿Minha tese é de que quem não deve não teme.¿

O presidente fez um balanço da política econômica do governo. ¿Na medida em que conquistamos a estabilidade, na medida em que conseguimos controlar a inflação, estamos vendo os juros caírem. Já caiu de 19,75% para 19%, a tendência natural é o juro continuar caindo¿, disse. ¿E, na medida em que o juro vai caindo, a tendência natural é o câmbio ter um ajuste.¿