Título: Bush quer barrar novas ondas e legalizar quem já está no país
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Metrópole, p. C1

Pela segunda vez em menos de 24 horas, o presidente George W. Bush prometeu ontem endurecer a repressão à entrada de imigrantes ilegais nos Estados Unidos. Falando em El Paso, no Texas, disse que continuará o programa para reforçar a infra-estrutura no controle da fronteira, instalando "uma combinação de cercas, câmeras infra-vermelhas e patrulhas". Um dia antes, em Tuscon, no Arizona, ele anunciara a nova ofensiva, voltada tanto para o endurecimento dos controles, detenção e deportação de ilegais, quanto para promover o plano de criar um programa de autorização de trabalho temporário que poderia levar à legalização de 8 a 14 milhões de imigrantes ilegais no país - a maior parte mexicanos. Nesse discurso, mencionou o programa de deportação de brasileiros (Veja ao lado). A iniciativa de Bush foi para introduzir novo tema da agenda - dominada pelas notícias da guerra do Iraque - e para buscar um acordo num assunto que divide os republicanos.

Nos dois discursos, Bush enfatizou a segurança, prioritária para os conservadores, especialmente os que vivem perto da fronteira com o México. Mas ele está sob pressão, também, dos líderes empresariais, grandes doadores para seu partido. Estes defendem a regularização dos indocumentados e uma forma legítima de acesso de imigrantes econômicos aos EUA para preencher empregos que os americanos não estão mais dispostos a desempenhar.

"O povo americano não deveria ter de escolher entre ser uma sociedade aberta (a imigrantes) e uma sociedade onde as leis são obedecidas", disse Bush. "Podemos ser ambas as coisas as mesmo tempo."

Bush disse que apóia "um aumento no número de carteiras de residentes permanentes, que abrem o caminho à cidadania". Mas esclareceu que o respeito à Justiça e a necessidade de segurança na fronteira com o México não permitem leniência. "Não assinarei uma lei que inclua anistia."

A suspeita de que o programa que propõe será, com o tempo, uma anistia aos atuais ilegais é, porém, uma das fontes da resistência ao projeto que enviou ao Congresso. Este prevê a legalização dos indocumentados por 3 anos, prorrogáveis por mais 3, e a volta compulsória dos beneficiados após 6 anos de residência legal. Como o período para o início do processo de naturalização para os legais é de 5 anos, os críticos vêem na proposta um caminho para regularizar milhões de ilegais.