Título: Presa maior quadrilha de coiotes
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Metrópole, p. C1

O esquema movimentava US$ 3 milhões por mês e enviava até 3.500 pessoas por ano para os Estados Unidos. Muitos de seus clientes morreram tentando atravessar a fronteira do México com o país, outros foram detidos pela Imigração americana. Havia ainda os que, sem os US$ 10 mil cobrados pela organização criminosa, eram obrigados a trabalhar para a quadrilha até que a dívida fosse quitada, como escravos e sob a ameaça de serem entregues às autoridades dos EUA. Após um ano de investigações, as Polícias Civil de São Paulo e a Rodoviária Federal, além do Ministério Público Estadual, deflagraram a Operação Coiote para desbaratar o esquema. Foram presas 30 pessoas em São Paulo, Minas, Rio e Paraná - 3 escaparam. Trata-se do maior esquema de tráfico de pessoas para os EUA descoberto no Brasil, segundo os agentes do Serviço Secreto do Departamento de Segurança Interna americano, que acompanharam a ação.

Os acusados tiveram a prisão decretada por cinco dias pela Justiça. Segundo o promotor Fábio Bechara, do Grupo de Atuação Especial Regional de Combate ao Crime Organizado (Gaerco), eles são acusados de estelionato, formação de quadrilha, falsificação de documento e de expor a vida de terceiros a risco. "Há vítimas que são extorquidas e forçadas a até hipotecar suas casas", disse.

Mais de cem horas de escutas telefônicas feitas pela polícia demonstram o descaso do grupo com os imigrantes ilegais e os esquemas da organização. Em cada Estado, ela mantinha uma parte da estrutura. De acordo com o delegado Eduardo Gobbetti, da Delegacia do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, Guarulhos, o aliciamento de imigrantes para os EUA era chefiado pelo empresário Daniel Laurindo Evaristo Chaves, que foi preso. A família Chaves tem uma agência de viagens e uma distribuidora de água e de gás em Governador Valadares, Minas.

Foram feitas ainda prisões em Belo Horizonte e Ipatinga. Os imigrantes vinham para Guarulhos, onde eram hospedadas em casas e hotéis da organização. Quem chefiava essa parte era Vânia Maria Barbosa Bicalho, presa na operação. Ela era procurada nos EUA.

"Ela é responsável ainda pelo esquema de se atravessar a fronteira americana de carro", disse o investigador Robson Feitosa da Silva, que ficou dois meses e meio infiltrado no grupo com autorização judicial.

Em São Caetano do Sul (SP), foi preso o estudante Luis Felipe Akira Dias, acusado de clonar cartões de crédito que serviam para a compra das passagens aéreas para o México e equipamentos eletroeletrônicos nos EUA. Estes eram enviados para o Paraguai e, de lá, contrabandeados para o Brasil.