Título: Dirceu comanda PT em manobra contra sessão
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Nacional, p. A6

Se o Supremo Tribunal Federal deixar, a Câmara vota hoje à noite o pedido de cassação do deputado José Dirceu (PT-SP), em meio a grande expectativa de seus aliados e opositores. O resultado da decisão do STF - que se reúne a partir das 14 horas - já será conhecido no início da sessão marcada pela Câmara para as 19 horas. O mais provável é que o STF determine a retirada de um trecho do parecer do relator, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), e permita o julgamento de Dirceu. Não é improvável que Dirceu entre com novo recurso judicial hoje, antes ou depois da votação, cobrando a republicação do parecer do relator, depois de feitas as modificações determinadas pelo STF. Embora o próprio Dirceu tenha ficado mais otimista nos últimos dias, na avaliação dos seus aliados ainda lhe falta ganhar 40 votos para safar-se da cassação, que será inevitável se alcançar pelo menos 257 votos do total de 513 deputados.

Como medida preventiva, o relator Júlio Delgado já preparou um parecer em que excluiu o depoimento da diretora do Banco Rural, Kátia Rabello, que teria atropelado os depoimentos das testemunhas de defesa e que deve ser eliminado do parecer, segundo a decisão provisória do STF. "Mesmo sem o depoimento de Kátia Rabelo e sem os documentos sigilosos, os dados são suficientes para o plenário fazer o seu julgamento", disse ontem Delgado.

ÚLTIMA CARTADA

Dirceu chegou à reunião da coordenação do PT na Câmara, ontem cedo, preparado para deflagrar mais uma batalha por um novo adiamento. Ao chegar ao plenário 16, uma surpresa: o presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar, passava pelo corredor. O inevitável cumprimento foi constrangedor - apenas um protocolar aperto de mãos. Izar estava a caminho do STF, onde conversaria com o presidente, ministro Nelson Jobim. Voltaria mais tarde convencido de que a votação não seria adiada.

Na reunião fechada com seus companheiros de partido, Dirceu apresentou um novo argumento jurídico que impediria a votação em plenário hoje. Segundo ele, mesmo que a decisão do STF seja pela leitura do relatório, depois de suprimido o depoimento de Kátia Rabello, a votação no plenário não poderia acontecer porque deveria ser antecedida por uma nova publicação do voto do relator.

Dirceu disse aos deputados que não está trabalhando para empurrar a decisão até o ano que vem, embora defenda o adiamento da votação em plenário por alguns dias. Ele afirmou que espera uma conclusão do processo em dezembro.

Ao final da reunião, os petistas saíram, em coro, defendendo a tese do ex-ministro. "Acho muito difícil a votação amanhã (hoje), senão impossível", repetiu o primeiro a sair, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Dirceu saiu em seguida e não quis falar sobre um possível adiamento. "Isso é questão para os advogados", remeteu. Mas seu advogado, José Luís Oliveira Lima, já tem pronta a petição que será encaminhada à presidência da Câmara, se o STF determinar apenas a supressão parcial dos depoimentos. A petição pedirá que o voto do relator, por ser diferente do anterior, seja republicado e notificado à defesa.

O deputado confirmou que há tempo para o processo ser concluído ainda este ano: "Dá tempo de sanar os vícios do processo." E, antes que a tarde terminasse, saiu novamente em campo à cata de votos que faltam.