Título: Ex-ministro é agredido a bengaladas na Câmara
Autor: Vera Rosa e Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Nacional, p. A7

Na véspera da votação de seu pedido de cassação, o ex-chefe da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP) foi agredido ontem com dois golpes de bengala ao deixar o plenário da Câmara, às 18 horas. Visivelmente transtornado, um homem de barba e cabelos brancos desferiu as bengaladas contra Dirceu, que protegeu o rosto com as mãos e foi atingido no ombro. "Fristão, Fristão!", gritou ele, numa referência ao personagem Friston, do livro Dom Quixote, de Miguel de Cervantes.

Detido pela Polícia Legislativa da Câmara, onde prestou depoimento, o agressor foi identificado como Yves Hublet, de 67 anos, escritor paranaense de livros infantis como A Grande Guerra da Dona Baleia, Artes e Manhas do Mico-Leão Dourado e Planeta Água. Yves disse à polícia que foi tomado por "um súbito ataque de nervosismo" ao avistar Dirceu e por isso se lembrou de Friston.

O personagem do clássico de Cervantes é um feiticeiro inimigo de dom Quixote. Num trecho do livro, Quixote diz a Friston que ele não pode evitar aquilo que pelo céu está ordenado.

Dirceu não registrou queixa contra Yves e mandou entregar-lhe um impresso intitulado "Treze Manipulações no Processo contra José Dirceu".

"Nada me intimidará, nada me fará voltar atrás para provar minha inocência", afirmou o deputado, logo após ser atacado. Dirceu disse nunca ter visto o agressor antes e atribuiu a atitude ao clima de hostilidade vivido com a crise política.

"Quando a oposição fala em surrar o presidente Lula e o chama de bandidão, acaba criando um caldo de cultura de que o País não precisa", argumentou.

"ESPERANÇOSO"

Antes das bengaladas, Dirceu dizia estar "tranqüilo" com o desfecho de seu processo de cassação, previsto para hoje. "Estou esperançoso", contou, ao abraçar deputados no plenário.

Mesmo tendo preparado um contundente discurso de defesa, no qual vai mencionar sua biografia, a trajetória da esquerda e o governo Lula, o ex-ministro espera conseguir adiar mais uma vez o julgamento. "Eu mesmo não acredito que tenha chegado até aqui", confessou.