Título: 'A política econômica nunca foi empecilho para a política social'
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Nacional, p. A10

"A política econômica nunca foi empecilho para a política social", disse ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao reagir, em reunião do Conselho de Segurança Alimentar (Consea) no Planalto, a críticas à política econômica feitas por Maria Emília Lisboa Pacheco, da ONG Federação de Órgãos para a Assistência Social. lula foi duro: "É uma cultura política que veio do sindicato, da igreja e do movimento social descarregar em cima de quem está mais próximo a culpa por aquilo que aconteceu."

Emília, em discurso que surpreendeu o presidente, criticou a política econômica, os repasses para compra de alimentos e a falta de diálogo com o governo. Lula admitiu falhas na área de comunicação e acusou os conselheiros de estarem mal informados sobre as conquistas sociais. "Penso que isso tem de ser discutido com os companheiros, porque senão ficamos discutindo sempre a comida que falta na mesa e não valorizamos aquela (com) que enchemos o bucho."

Lula reclamou das cobranças: "Nem completamos 36 meses e muita gente gostaria que fizéssemos coisas como se estivéssemos no governo há 36 anos", disse. "Precisamos ser irradiadores de insatisfações, para que o governo possa aprimorar suas políticas, mas também (ser) irradiadores das coisas boas", completou.

DE SURPRESA

A presença de Lula não estava na agenda presidencial. Antes da chegada do presidente o encontro transcorria naturalmente, sem empolgação, a ponto de uma conselheira jogava "paciência" no laptop. Mas quando Lula surgiu de surpresa, Maria Emília - como ela mesma explicaria depois - executou um plano que combinara com um grupo de cerca de dez integrantes do Consea.

Chamada para falar, começou criticando a falta de recursos para o programa federal de aquisição de alimentos. "Queria manifestar a minha insatisfação pela falta de diálogo com Vossa Excelência", afirmou, frente a Lula. "Continuamos preocupados e indignados com os níveis alarmantes de pobreza, de insegurança alimentar e insustentabilidade ambiental." Ela reclamou da decisão de liberar os transgênicos e elaborar a Lei de Biossegurança sem ouvir o Consea. Por fim, disse que o governo costuma congelar o repasse de recursos para a segurança alimentar: "Juntamo-nos às vozes críticas da sociedade em relação aos rumos da política econômica", ressaltou. "Algumas vezes nem sequer obtivemos respostas às propostas debatidas no Consea", disse.