Título: 21 carros antidengue estão abandonados
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2005, Vida&, p. A42

DESPERDÍCIO: Apesar de o ministro da Saúde, Saraiva Felipe, ter dito nesta semana que o Rio corre o risco de uma epidemia de dengue no verão e pedir a participação da população hoje, no dia D de combate à doença, 21 carros destinados ao controle do seu mosquito transmissor, o Aedes aegypti, em dez cidades do Estado estão parados num pátio da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) na zona norte da capital, por falta de pagamento de multas e impostos. Em Campo Grande, na zona oeste, outros veículos, com apenas três anos de uso, apodrecem num terreno da prefeitura. O local é bom cenário para as atividades de hoje, já que os vizinhos temem que os carros se tornem possíveis focos do mosquito, pois algumas carrocerias estão abertas, cheias de folhas, num sinal de que acumulam água da chuva.

¿Esses carros estão aí há muito tempo e sempre ficam cheios de água¿, conta Fábio Barreto, vendedor da loja de automóveis vizinha, que teme que surjam focos. ¿Se continuar assim, é o que vai acontecer.¿

O subsecretário municipal de Saúde do Rio, Mauro Marzochi, diz que o terreno é monitorado por agentes. ¿Para haver a reprodução do mosquito tem de haver água limpa parada e na sombra. Os carros estão no sol¿, justifica. Ele admite o desperdício com os carros parados, mas classifica como erro maior eles terem sido comprados em 2002 pela Funasa por serem inadequados ao trabalho de combate à dengue. ¿Transportam só duas pessoas. Preferíamos Kombis. Contratamos companhias de transporte para as equipes.¿

As 21 picapes Corsa, Fiat e S-10 que acumulam poeira nos pátios são parte dos automóveis cedidos às secretarias municipais, em regime de comodato, exclusivamente para o combate à doença. Eles foram retomados pela Funasa no fim de 2004 porque os municípios não estavam pagando as multas e impostos, que, no caso de carros oficiais, se resumem ao DPVAT.

Interessada em tê-los de volta, a maioria das prefeituras já regularizou os pagamentos, mas os carros agora não podem ser devolvidos porque caíram numa armadilha burocrática: são patrimônio da Funasa, mas o órgão perdeu para a Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério a atribuição de combater a dengue. Os municípios, porém, poderiam ter evitado a situação se tivessem pago as dívidas após várias advertências feitas pela Funasa antes de retomá-los.

O diretor-técnico da secretaria, Fabiano Pimenta, informa que está em curso a transferência da propriedade dos veículos para o ministério, que pode doá-los aos municípios, mas não disse quanto tempo isso levará.