Título: Dinheiro público abasteceu corretora
Autor: Diego Escosteguy e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Nacional, p. A12

A CPI dos Correios começou a avançar no rastro do dinheiro público que abasteceu o mensalão. Análise dos técnicos da comissão, à qual o Estado teve acesso, revela uma precisa coincidência de datas entre as operações da agência DNA com a Visanet, empresa ligada ao Banco do Brasil, e os depósitos do valerioduto na corretora Bônus Banval, apontada como intermediária para repasses ao PT e partidos da base aliada. A CPI reuniu indícios bancários de que, após lavagem no valerioduto, parte do dinheiro público que saiu da Visanet foi parar nas contas da corretora para pagamento do mensalão. O rastreamento mostra que todos os depósitos do valerioduto para a Bônus Banval se concentram num período de dois meses, logo após as intrincadas transferências da Visanet para a agência do empresário Marcos Valério.

A CPI já demonstrou que parte desse dinheiro, recebido pela DNA do Banco do Brasil como "antecipação de lucros", veio dos cofres públicos. Até agora, os técnicos identificaram oito transferências bancárias de empresas de Valério ou seus sócios para contas da Bônus Banval. Feitas entre abril e junho do ano passado, as operações somam pelo menos R$ 6,6 milhões.

O primeiro depósito coincide com a data do empréstimo de R$ 10 milhões contraído pela Tolentino Associados, ligada a Valério, no BMG. No valor de R$ 3,4 milhões, a transferência foi feita no dia 26 de abril de 2004. Foi este empréstimo que a CPI comprovou ter sido simulado para explicar a operação Visanet-DNA, montada para "esquentar" os R$ 10 milhões que saíram da Visanet, passaram pela DNA e foram investidos no banco BMG. Em seguida, R$ 6,6 milhões dos R$ 10 milhões foram transferidos para a Bônus Banval.

As demais sete transferências para a corretora, localizadas pela CPI, foram feitas pela 2S Participações, de Valério e sua mulher, Renilda. Documentos em poder da comissão mostram que os R$ 10 milhões rastreados fazem parte dos R$ 58,3 milhões antecipados pela Visanet à DNA, em 2003 e 2004.