Título: Oposição venezuelana desiste de eleição
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Nacional, p. A17

Três partidos de oposição na Venezuela, incluindo o mais importante - o Ação Democrática (AD) -, anunciaram ontem a retirada de seus candidatos das eleições legislativas de domingo, alegando irregularidades no sistema de votação. O social-democrata AD, que atualmente é a segunda força política, com 23 deputados na Assembléia Nacional, disse que os sistemas eletrônicos não garantem o segredo da votação, na qual serão escolhidos 167 deputados. Segundo os opositores, as máquinas usadas na votação - compradas dos Estados Unidos - podem ser adulteradas - versão desmentida pelo Conselho Nacional Eleitoral.

No domingo, o eleitor venezuelano receberá uma cartilha de papel para marcar seu candidato. Em seguida, passará a cartilha em um leitor automático que processará a informação. A contagem de votos também será feita de forma automática. Para a oposição, esse procedimento dá margem à ocorrência de fraudes.

A saída dos três partidos ocorre após uma auditoria realizada na semana passada que - segundo a oposição - detectou que o sistema automatizado poderia ser violado para quebrar o segredo do voto.

O Conselho Eleitoral decidiu segunda-feira suspender o uso das máquinas que capturam as digitais dos eleitores. "Não podemos participar no processo eleitoral nestas condições. Pela primeira vez em 64 anos não participaremos de um processo eleitoral", disse o secretário-geral do AD, Henry Ramos.

Os outros dois partidos que também retiraram seus candidatos - o democrata-cristão Copei (que atualmente tem seis deputados) e o conservador Projeto Venezuela (sete deputados) - pediram aos outros partidos que também se retirem das eleições. O deputado do Movimento Al Socialismo (MAS) Julio Montoya, no entanto, assegurou que todos os candidatos opositores participarão das eleições legislativas em Zulia, Estado rico em petróleo, reduto opositor e maior distrito eleitoral do país, que elege 15 deputados.

Na primeira reação oficial, o vice-presidente José Vicente Rangel reduziu a importância da retirada de partidos tradicionais. "Estão saindo pois não têm votos e nenhum apoio do povo. Os que têm votos participarão das eleições", declarou Rangel.

" O povo não os quer", disse o vice-presidente durante uma marcha no Estado de Guárico (região central do país). Segundo ele, a retirada dos candidatos corresponde a uma "conspiração da oligarquia monitorada pelo 'império'".

A eleição do dia 4 é crucial para os partidários do presidente Hugo Chávez, que pretendem obter uma maioria qualificada. A intenção deles é aprovar uma reforma constitucional que envolve desde o levantamento de restrições à reeleição presidencial até um maior controle sobre a economia do país.