Título: Grandes cidades perdem peso no PIB
Autor: Nilson Brandão Jr.
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2005, Nacional, p. B16

Municípios fora dos grandes centros urbanos já produzem metade da riqueza nacional, fenômeno inédito na economia brasileira. Nos últimos anos, as capitais perderam gradativamente peso relativo no PIB ¿ de 32% em 1999 para 28% em 2003 ¿ enquanto municípios em outras áreas avançaram, impulsionados por produção e refino do petróleo, avanço da agropecuária ou guerra fiscal. O PIB do interior foi o que mais cresceu no período: 72,5% em termos nominais (sem descontar a inflação), bem acima do crescimento de 40,5% das capitais. Os dados foram divulgados ontem pelo IBGE na pesquisa PIB dos Municípios, com estatísticas coletadas em 5.560 cidades. Ela mostra que, de R$ 1,556 bilhão de receita nacional em 2003, 49,7% vieram de fora das regiões metropolitanas e capitais ¿ fatia que em 1999 estava em 46%. Já o peso das regiões metropolitanas ficou em 22%.

O coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto, diz que ainda é preciso avaliar outros anos para esse movimento se configurar como tendência. Segundo ele, a fraca conjuntura econômica em 2003, desfavorável às grandes cidades, pode ter prejudicado as capitais. Em 2004, por exemplo, a economia cresceu bem, o que pode beneficiar as capitais. O peso relativo da capital paulista foi o que mais encolheu no PIB nacional, de 11,6% para 9,4% em cinco anos, seguido do Rio, cuja fatia caiu de 5,6% para 4,3% na mesma comparação. Só de 2002 para 2003, a fatia da cidade de São Paulo na riqueza nacional caiu um ponto porcentual, o que equivale a R$ 15,5 bilhões. O ano, o primeiro do governo Lula, foi marcado pelo baixo crescimento econômico.

Em valores nominais, o PIB paulistano cresceu 4,85% de um ano para o outro. O IBGE não divulga variações reais (descontados os efeitos da inflação) para os municípios porque não há taxas de preços específicas para cada cidade. Mas, usando o IPCA da região metropolitana de São Paulo (8,17% em 2003), o PIB paulistano teria caído nesse ano. ¿Aparentemente, houve uma queda que não pode ser quantificada¿, diz o chefe de Estudos Econômicos da Fundação Seade, Miguel Matteo. ¿Houve um movimento de as riquezas saírem das capitais para regiões metropolitanas e outras áreas. Mas ainda não desconcentrou a riqueza, mas é uma tendência¿, explica a coordenadora da pesquisa, Sheila Zani.

PETRÓLEO

Em maio, com base em dados de 2002, o IBGE divulgou que nove municípios concentravam 25% da riqueza nacional. O nível permanece semelhante: em 2003 eram dez os municípios responsáveis por um quarto da riqueza do País. Os técnicos explicam que a análise em prazo mais longo mostra melhor a evolução. De 1999 a 2003, dos dez municípios que mais ganharam peso na economia em dois predomina a produção de petróleo (Campos de Goytacazes/RJ e Macaé/RJ), em três o refino (Paulínia/SP, Duque de Caxias e São Francisco do Conde/BA), além da petroquímica em Camaçari/BA, a indústria e refinaria em Betim/MG e em Manaus/AM, setor público e financeiro em Brasília.

Só o PIB do município de Paulínia/SP, onde funciona a maior refinaria da Petrobrás, avançou 109,96% (nominal) entre os dois anos ¿ 20 vezes mais do que o da capital do Estado. O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, concorda que a descentralização da riqueza é sempre positiva, mas alerta que o crescimento em cima de atividades como petroquímica, petróleo e usinas hidrelétricas podem apenas favorecer uma microrregião, sem irradiar desenvolvimento.

Como usam muita tecnologia, essas atividades geram riqueza, mas empregam pouco. ¿Isso pode produzir mais distorção ainda. A legislação dificulta a autonomia fiscal e a tecnologia acaba não empregando mais gente. Ou seja, a riqueza nem sempre gera benefício sobre o cidadão¿, diz Ziulkoski.

Além do avanço do petróleo, as indústrias, de forma geral, estão buscando custos mais baixos de produção e mão-de-obra, explica o diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida. Por isso, muitas foram para o interior. ¿A guerra fiscal não é só negativa, tem o aspecto de atrair recursos para regiões não tão desenvolvidas.¿