Título: Fiesp não vai aceitar salvaguardas argentinas
Autor: Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2005, Nacional, p. B14

Recado de empresários foi dado a Amorim durante reunião do Conselho Superior de Comércio Exterior

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) não aceitará que o governo da Argentina imponha salvaguardas, ou a cláusula de adaptação competitiva ¿ como chamam os argentinos ¿, a produtos industrializados brasileiros de forma unilateral e com prazo indefinido. O recado foi dado ontem por representantes da indústria paulista ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, durante reunião do Conselho Superior de Comércio Exterior (Coscex) da Fiesp. ¿Foi deixado muito claro (ao ministro) que seria difícil o setor industrial aceitar esse tipo de medida restritiva de comércio, se fosse unilateral ou por um tempo indeterminado¿, informou o diretor do Coscex, embaixador Rubens Barbosa. ¿Dentro de um espírito de harmonia e busca de consenso, apesar de ser contra o Tratado de Assunção, uma medida que fosse temporária e que ajudasse a manter os níveis atuais de comércio poderia ser examinada¿, ressalvou.

Amorim não quis detalhar aos empresários, segundo Barbosa, como estão as negociações entre os dois países. À imprensa, o ministro declarou apenas que se recusa a ¿negociar pelos jornais¿. Representantes dos dois governos planejam anunciar, no dia 30, uma série de acordos.

Embora tenha admitido a possibilidade de aceitar medidas de restrição comercial entre os dois países, Barbosa deixou claro, pouco depois, que a Fiesp não tem intenção de aceitar, de fato, as salvaguardas argentinas. ¿Se formos examinar hoje as condições macroeconômicas da Argentina e do Brasil, eles estão crescendo três vezes mais do que nós e o câmbio argentino está mais desvalorizado do que o brasileiro.¿

Nesse caso, ele alega que as chamadas assimetrias comerciais, ¿que o governo argentino gosta de colocar na mesa para pedir medidas de exceção¿, poderiam ser invocadas pelo Brasil, já que o peso está mais desvalorizado do que o real, os juros argentinos são menores do que os brasileiros e a expectativa de crescimento econômico da Argentina é maior do que a do Brasil. ¿A Argentina está crescendo 9% e nós 3%. Onde estão as assimetrias que justifiquem medidas de exceção?¿

A Fiesp ainda estabeleceu limite às propostas que o governo levará à reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Hong Kong, no próximo mês. Ratificando declaração feita por Amorim de que ¿os números definitivos dificilmente serão alcançados¿, Barbosa, disse que o setor não aceitará uma redução superior a 50% das tarifas de importação de produtos industrializados consolidadas em troca da queda dos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos.