Título: Igreja divulga as normas sobre gays
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Vida&, p. A19

O Vaticano finalmente tornou pública a norma que fecha as portas dos seminários e do sacerdócio aos homossexuais. A instrução, divulgada ontem, afirma que a Igreja não pode aceitar como seminaristas ou padres três tipos de gays: os que "praticam a homossexualidade", os que têm "tendências homossexuais profundamente radicadas" e os que "apóiam a chamada cultura gay". É a primeira grande determinação do papa Bento XVI, desde abril à frente da Igreja. A norma Sobre os Critérios de Discernimento Vocacional acerca das Pessoas com Tendências Homossexuais e a da Sua Admissão ao Seminário é às Ordens Sacras (veja ao lado) diz que homens que têm relação sexual com homens são "intrinsecamente imorais e contrários à lei natural". O texto continua: "A Igreja, embora respeite profundamente as pessoas em questão, não pode admiti-las ao seminário e às ordens sacras."

Segundo a instrução, os professores dos seminários precisam redobrar a atenção sobre o postulante durante a admissão e ao longo do curso e, se houver dúvida, não admiti-lo à ordenação.

REAÇÕES

Apesar de a discussão no Vaticano ter durado anos, a instrução ganhou urgência por causa dos casos de pedofilia envolvendo padres dos EUA. O escândalo explodiu há três anos e pôs a homossexualidade em foco porque as vítimas, na maioria, eram meninos.

A determinação irritou os defensores dos gays, que acusam o Vaticano de misturar pedofilia, que é crime, com homossexualidade. Entre eles está a freira americana Jeannine Gramick, que em 1999 recebeu uma ordem de silêncio do Vaticano por defender os gays: "Padres heterossexuais também abusam de mulheres. Por isso vamos banir os heterossexuais dos seminários?"

Em Mesa, Arizona, segundo a agência Ansa, o padre Leonard Walker, de 58 anos, abandonou o sacerdócio em protesto à norma. Em entrevista ao jornal Arizona Republic, ele não quis discutir sua orientação sexual, mas disse que não se sentia bem "usando a batina". "É como para um judeu usar o uniforme nazista. Não posso permanecer em uma Igreja que não apresenta dose alguma de integridade."

A edição do jornal do Vaticano, o Osservatore Romano, trouxe um texto justificando a instrução. Nele, o padre e psicanalista Tony Anatrella diz que os homossexuais são "imaturos, narcisistas e manipuladores" e "não estão preparados para se casar, adotar filhos ou tornar-se padres".

No Brasil, o bispo d. Anuar Batisti, presidente da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada (setor da CNBB que cuida de seminários), destacou o trecho que diz que "tendência homossexual" pode ser um "problema transitório". "Tendência é diferente de prática", explica. A instrução não atinge quem já é padre.