Título: Mercado reage mal a Felisa
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

Passado o primeiro impacto negativo dos mercados no exterior com a notícia da saída do ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, e sua substituição pela presidente do Banco de la Nación, Felisa Miceli, a avaliação em Wall Street ainda é negativa. O diagnóstico se repete na Europa, entre analistas de bancos estrangeiros. Segundo eles, embora o desempenho da economia argentina não seja afetado no curto prazo, as perspectivas para o médio prazo se tornaram mais preocupantes, principalmente no campo inflacionário. Além disso, as negociações entre o governo e o Fundo Monetário Internacional (FMI) ficarão mais difíceis.

"Embora a situação provavelmente se estabilize, pode ficar pior antes de melhorar. Parece ser uma boa oportunidade para reduzir exposição à Argentina", disse o estrategista para a América Latina do Banco Lehman Brothers, Guillermo Mondino. Para ele, a nomeação de Felisa não é encorajadora. "Ela é vista de certa forma como uma economista de segunda categoria e lhe falta sabedoria política para a posição, e expertise técnica."

Pablo Morra, analista para a América Latina do Banco Goldman Sachs, a substituição de Lavagna por Felisa "aumenta o risco de o governo adotar uma postura mais intervencionista, heterodoxa e populista em termos de política econômica." A nomeação de Felisa, diz ele, deixa transparecer que o presidente Néstor Kirchner não quer nenhuma figura politicamente autônoma no seu Ministério.

O diretor de pesquisa da corretora BCP Securities, Walter Molano, espera que a ministra imponha "medidas artificiais" para reduzir a inflação, como controle de preços. "E também há grande probabilidade de o país romper com o FMI."

Para o economista Neil Dougall, do Banco Dresdner Kleinwort Wasserstein, Felisa tem alguma experiência, mas menos presença política que Lavagna. "A saída de Lavagna deve aumentar a propensão para o emprego de intervencionismo e persuasão moral como métodos para combater a inflação, mantendo o viés para um peso fraco com o objetivo de estimular o crescimento econômico."

Analista do WestLB, Adauto Lima diz que o populismo do governo aumentará. "Não esperamos que Felisa promova políticas no curto prazo que afetem o crescimento econômico ou ponham em risco as metas fiscais."