Título: Saída de Lavagna deixa EUA e FMI sem interlocutor
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

As relações da Argentina com o FMI, que pareciam ter entrado numa fase de recomposição após a colisão frontal ocorrida antes e depois da declaração da moratória e do colapso financeiro do país, voltaram à estaca zero. "Lavagna havia indicado ao Fundo que enviaria em breve uma carta que serviria como base para uma negociação de um programa econômico", disse uma fonte oficial. "Isso agora está é incerto, pois ninguém em Washington conhece o que pensa a ministra nomeada para o lugar de Lavagna ou qual seu grau de autonomia para agir, presumindo-se que ela tenha um plano", acrescentou a fonte, referindo-se a Felisa Miceli, a economista de 51 anos, presidente do Banco de La Nación, que agora chefiará a equipe econômica. A incerteza complica o problema imediato entre o FMI e a Argentina, que é encontrar uma maneira que permita ao país honrar a dívida de US$ 9 bilhões que terá de saldar com a instituição nos próximos dois anos, sendo US$ 2 bilhões em 2006. A queda de 5% do mercado na Argentina, desde a segunda-feira, reforçaram o cálculo, nos meios oficiais na capital americana, de que o país já obteve todos os benefícios que poderia auferir da moratória e da recuperação da economia depois da brutal contração de 2002, e que o caminho à frente é de deterioração. A decisão de Lavagna de abandonar o barco de Kirchner ajudou a fortalecer a percepção de que a economia tenderá, agora, apenas a piorar.

Estejam ou não corretas essas estimativas, uma coisa com que a sucessora de Lavagna não deve contar é com a boa vontade de Washington. Segundo o presidente do Diálogo Interamericano, Peter Hakim, o presidente George W. Bush e os membros de sua comitiva voltaram de Mar del Plata profundamente desgostosos com a forma como Kirchner conduziu-se como anfitrião da Cúpula das Américas. A frustração americana aumentou com a decisão do líder argentino de visitar a Venezuela imediatamente depois do encontro de líderes do Hemisfério. "Do ponto de vista do governo Bush, a saída de Lavagna de cena é um fato negativo", disse Hakim.