Título: '98% das relações com a Argentina são boas'
Autor: Renata Veríssimo e Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Economia & Negócios, p. B7

"Não acho que as relações entre Brasil e Argentina têm de ficar subordinadas a desencontros", afirmou ontem o assessor especial da presidência Marco Aurélio Garcia, no Fórum de Reflexão Brasil-Argentina, que antecede a reunião bilateral entre os dois países. Para Marco Aurélio, 98% das relações entre os dois países são boas e sem problemas - apenas 2% viram notícia de jornal. Para mostrar áreas de convergência entre os dois países, ele cita as posições de ambos quanto à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), à Organização Mundial do Comércio (OMC) e às relações Sul-Sul. Marco Aurélio defendeu o "reforço institucional" da secretaria executiva do Mercosul. "Precisamos reforçar institucionalmente o Mercosul não só para gerir conflitos, mas para construir consensos. Tem de acabar com essa idéia de que a secretaria geral do Mercosul seja apenas uma espécie de Corpo de Bombeiros."

Hoje, a partir das 10h30, em Puerto Iguazú, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Néstor Kirchner, se reunirão para um, segundo Garcia, encontro "eminentemente político". Os dois países, lembrou, têm responsabilidades compartilhadas na região, que dependem de maior coordenação entre ambos. Entre elas, destaca maior apoio ao Paraguai e ao Uruguai no Mercosul, acompanhamento da evolução da situação da Bolívia e o futuro da comunidade sul-americana.

POLÍTICA BENÉFICA

Depois de ouvir ressalvas do economista Paulo Nogueira Batista Júnior à política econômica brasileira, Marco Aurélio defendeu o governo. "A política econômica do governo, mesmo com suas perversões, não cria problemas para a Argentina", salientou, acrescentando considerar a política econômica até "benéfica" ao país vizinho, inclusive pelas altas taxas de juros vigentes no País ou pelo câmbio.

O assessor defendeu ainda a integração física e energética na região. O professor Hélio Jaguaribe, presente ao encontro, lembrou que "o Mercosul tem muito futuro e, se ele não tiver, nós também não temos". Os entraves, para ele, são "problemas de trajetória superáveis". Para Paulo Nogueira Batista, "em um processo de integração as brigas são naturais".

Sobre a entrada da Venezuela no Mercosul, Marco Aurélio disse que, com aquele país cumprindo os requisitos normativos, não há nenhum problema no seu ingresso no bloco comercial.