Título: 'Sem OMC, só restam acordinhos'
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2005, Economia & Negócios, p. B8

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, que, sem um movimento mais decisivo da União Européia (UE) para a abertura de seu mercado a produtos agrícolas, não haverá avanços na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). E sem um entendimento mais amplo na OMC, destacou, não restará ao Brasil alternativa senão a de "continuar com os nossos acordinhos" - referindo-se aos acordos de livre comércio e de preferências tarifárias que o Mercosul vem fechando, nos últimos anos, com economias em desenvolvimento. Sábado, Amorim participará de mais uma reunião do chamado G-4, que congrega os países ou blocos considerados mais relevantes nas discussões da Rodada Doha: EUA, União Européia, Índia e Brasil. É uma nova tentativa de convencer os europeus antes da Conferência Ministerial da OMC, marcada para Hong Kong entre os dias 13 e 18 de dezembro.

Apesar de reconhecer que a atual situação da Rodada Doha é "delicada", Amorim ainda não perdeu as esperanças. "Não podemos deixar que a rodada fracasse." Lembrou que em outubro os EUA fizeram um movimento considerado "relevante mas insuficiente" para o avanço das negociações. Washington propôs um corte de 60% nos subsídios que mais distorcem o comércio, mas indicou que alguns dos subsídios agrícolas seriam transferidos para outra qualificação, a dos subsídios não distorcivos.

Segundo Amorim, essa proposta limitaria a capacidade dos Estados Unidos de dar subsídios a seus agropecuaristas e poderia ser complementada pelo governo americano, caso a UE fizesse uma proposta mais favorável sobre acesso a mercados. Mas, até agora, a UE não fez este movimento. Da última proposta dos europeus, o Itamaraty concluiu que, de um total de 2.200 itens agrícolas, apenas cerca de 340 teriam cortes de tarifa.

Amorim explicou que, neste momento das negociações, o Brasil e seus sócios do G-20 (grupo que reúne nações em desenvolvimento) unem forças com os americanos. Ressaltou, entretanto, que isso não significa "alinhamento automático com os Estados Unidos", respondendo às críticas contra a estratégia de negociação do Brasil e do G-20.

Recentemente, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Exportadores de Carne Suína, Pedro de Camargo Neto, disse que os negociadores brasileiros estavam mais focados na questão do acesso ao mercado europeu, deixando de lado o combate aos subsídios pelos Estados Unidos.