Título: CPI acha depósito de Duda para Delúbio
Autor: Diego Escosteguy e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2005, Nacional, p. A7

Depois de meses de investigação, começa a dar resultado o pente-fino dos peritos da CPI dos Correios sobre as operações bancárias do publicitário Duda Mendonça. Obtida pelo Estado, a análise preliminar dos técnicos mostra a primeira prova da conexão do publicitário com a rede de doleiros que abasteceu o mensalão. Também revela um misterioso depósito do publicitário que fez a campanha do presidente Lula em 2002 em favor do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, no auge dos saques do mensalão. Segundo os dados levantados pela comissão, a corretora Stockolos Avendis EB Empreendimentos, que pertence ao doleiro Lúcio Funaro, transferiu R$ 19.756,06 para a conta pessoal de Duda no dia 12 de maio deste ano.

Além de dono da Stocklos, Funaro também é um dos fundadores da corretora Guaranhuns Empreendimentos, que intermediou os repasses do mensalão para o PL. A Guaranhuns, por sua vez, pertence à offshore Esfort Trading, cuja sede fica no paraíso fiscal do Uruguai. A CPI e a Polícia Federal investigam a conexão dessas empresas com remessas ilegais de recursos para o exterior e lavagem de dinheiro.

Segundo registro na Receita Federal, o endereço da Stockolos fica em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo. Na sala comercial onde a empresa funciona oficialmente há apenas uma porta fechada, sem nenhuma placa. Vizinhos de andar afirmam que nunca viram ninguém por lá. Na portaria, informa-se que Funaro costuma aparecer no prédio apenas esporadicamente.

VALERIODUTO

O repasse para Duda não é o único registro das atividades da Stockolos no valerioduto. A corretora já sacou R$ 300 mil da conta da agência SMPB, ligada ao empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, em março de 2003. Eram cheques endereçados à Guaranhuns, mas que foram depositados na conta da Stockolos.

Nessa primeira análise, os peritos também já conseguiram rastrear ao menos um cheque pessoal de Duda endereçado ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, operação considerada "suspeita" pelos técnicos. No valor de R$ 10 mil, o cheque foi depositado na conta de Delúbio no dia 1.º de setembro de 2003. Ainda em estágio inicial, a análise da CPI sobre o sigilo bancário da rede de doleiros envolvida no mensalão já indica que era intensa a movimentação de recursos entre as corretoras. No caso da Stockolos, há, por exemplo, transferências de R$ 206 mil e de R$ 75 mil para a Natimar, corretora do doleiro Najun Turner.

Em razão do volume de operações bancárias das corretoras e do pouco tempo até o fim dos trabalhos, os peritos da comissão acham difícil analisar todos os dados das corretoras Bônus Banval e Guaranhuns. As duas foram apontadas por Marcos Valério como receptoras de dinheiro do PT e do PL.

FALTA DE COLABORAÇÃO

Com o registro da ligação com os doleiros, complica-se de vez a situação de Duda Mendonça na CPI. Depois da revelação de que recebeu pagamentos em paraísos fiscais pelos serviços prestados na campanha do PT em 2002, o publicitário prometeu colaborar com os trabalhos da comissão.

Não foi o que aconteceu. Os advogados de Duda não entregaram os extratos da conta da offshore Dusseldorf, o que teria poupado meses de atrito entre a CPI e o Ministério da Justiça, responsável pela obtenção dos documentos no exterior. Até agora, a comissão não conseguiu autorização da Promotoria de Nova York, que detém a papelada das contas de Duda em bancos americanos, para ter acesso aos extratos.

O Estado deixou recados no celular e no escritório de Duda, mas não houve retorno. A advogada de Delúbio, Flávia Rahal, disse que tentaria entrar em contato com seu cliente, mas também não deu retorno.