Título: Testemunha diz que Sombra armou seqüestro para tentar pagar dívida
Autor: Ana Paula ScinoccaMariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2005, Nacional, p. A8

A CPI dos Bingos encontrou ontem uma testemunha que apresentou nova versão sobre a motivação do seqüestro e assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), em janeiro de 2002. Segundo essa testemunha - uma mulher que faz trabalho comunitário em uma favela de São Paulo -, um informante (identificado como Paraíba, que teria sido convidado para participar do crime) relatou que o seqüestro foi feito para quitar uma dívida contraída na eleição de 2000 pelo empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. A testemunha afirmou que Sombra - apontado pelo Ministério Público como mandante do crime - teria feito um acordo com o traficante de drogas conhecido como Banana, que queria legalizar o transporte alternativo em Santo André. Para ser atendido, o traficante teria oferecido R$ 1,5 milhão como doação para a campanha de Daniel. A testemunha mencionou que o ex-secretário da prefeitura André Klinger Luiz de Oliveira Souza teria participado da reunião que fechou o acordo.

Ainda segundo seu relato, diante da não legalização do sistema após a eleição do prefeito petista, o traficante cobrou a dívida de Sombra. O empresário não teria o dinheiro e, em acordo com o traficante, teria tramado o seqüestro do prefeito, com o objetivo de arrecadar R$ 3 milhões. Metade seria usada para quitar a dívida e o restante iria para a quadrilha contratada. Daniel teria sido executado porque reconheceu um dos integrantes da quadrilha - ex-segurança de seus comícios.

Questionado sobre o relato, Sombra negou que fosse verdadeiro.A testemunha disse acreditar que Daniel não sabia do acerto entre Sombra e o traficante. Sub-relator do caso Daniel na CPI, o senador Magno Malta (PL-ES), que ouviu a testemunha com Eduardo Suplicy (PT-SP) Romeu Tuma (PFL-SP) e um grupo do Ministério Público, considerou que a versão apresentada "fecha o caso". Já o promotor Roberto Wider Filho vê com reserva a nova versão, uma vez que vai na contramão das investigações realizadas pelo MP até o momento.

ACAREAÇÃO

Em acareação promovida pela CPI entre Sombra e os sete presos acusados de participação no seqüestro e assassinato do prefeito, Elcyd Oliveira Brito, o John, negou versão que deu em juízo e afirmou que o crime foi comum, não político. John também apresentou nova versão sobre a carta que enviou a um dos advogados de Sombra, Roberto Podval. Há 15 dias, ele negou o teor da carta, mas reconheceu que era sua assinatura. Ontem, admitiu ter enviado o texto e que o fez para conseguir dinheiro do empresário. "Na época eu estava sendo pressionado. Tinha dívidas e mandei uma carta ao advogado do Sérgio tentando extorquir ", disse John.

A CPI vai recomendar a abertura de inquérito contra Elcyd por extorsão. Também vai propor inquérito contra uma pessoa que se apresentou a Suplicy como pastor Paulo Mansur Haddad e alegou ter filmado o seqüestro. Segundo Suplicy, ele seria Ednaldo Ferreira de Sá, falsário conhecido da polícia.