Título: Morte de Toninho foi encomendada, diz garçom à CPI
Autor: Mariana CaetanoAna Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2005, Nacional, p. A9

O depoimento de um garçom de codinome Jack é encarado pela CPI dos Bingos como a prova de que a morte do prefeito de Campinas Antônio da Costa Santos, conhecido como Toninho do PT, estaria relacionada à exploração de jogos de azar. A subcomissão da CPI dos Bingos - que até agora investigava em conjunto a morte de Toninho do PT e o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT) - vai propor a criação de um novo grupo de trabalho. O nome cotado para o posto de relator é o do senador Romeu Tuma (PFL-SP).

O garçom foi ouvido ontem em sessão reservada da CPI dos Bingos, realizada na casa do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), em São Paulo.

De acordo com o senador Magno Malta (PL-ES), também integrante da comissão, o depoimento de Jack reforça a tese defendida pela viúva de Toninho, Roseana Garcia, de que o assassinato foi encomendado.

O prefeito de Campinas foi assassinado na noite de 10 de setembro de 2001, pouco depois de sair de um shopping center da cidade. A polícia sustenta a versão de crime comum para explicar a morte de Toninho.

"A versão de que foi crime comum certamente não se sustenta", assegurou Magno Malta, após ouvir o relato de Jack, na casa de Suplicy. "O depoimento dele, por mais que algumas pessoas queiram desqualificar, é muito contundente."

PROTEÇÃO

O senador do PL antecipou que vai procurar o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para pedir proteção à testemunha. Magno Malta adiantou que, se conseguir assegurar o benefício, o garçom Jack deverá prestar depoimento em Brasília à CPI dos Bingos.

Por enquanto, porém, o teor completo do depoimento será mantido sob sigilo, para garantir a segurança da testemunha.O garçom, que trabalhava em um bingo na época do assassinato de Toninho, relatou ter ouvido conversas que apontavam para a hipótese de o assassinato ter sido encomendado.

Jack relatou que trabalhava por contrato temporário em um bingo de Campinas e tinha autorização para permanecer no local após o fechamento, enquanto aguardava a passagem do primeiro ônibus, na manhã seguinte. Durante três madrugadas consecutivas no início de setembro de 2001 - segundo o relato à CPI -, ele teria ouvido um grupo tramar um assassinato.

Segundo Jack contou aos senadores, somente depois da morte de Toninho do PT ele associou as conversas ouvidas na casa de jogos ao crime, percebendo que o grupo tramava contra o prefeito.

Toninho, segundo as conversas ouvidas por Jack naquelas três noites, estaria contrariando interesses de certos grupos em Campinas.

ANDINHO

O garçom contou, ainda, que não chegou a ouvir o nome do prefeito nenhuma vez, mas deduziu que se tratava do assassinato de Toninho.

O crime foi atribuído pela polícia a Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, e a três membros de sua quadrilha. Apenas Andinho está vivo. Os outros três morreram em confrontos com policiais.

Jack surgiu como testemunha em agosto de 2002 e foi ouvido pelo ex-ouvidor das Polícias do Estado de São Paulo Fermino Fecchio. No mesmo dia, ele contou a mesma história ao então advogado da família de Toninho do PT, o hoje ministro Márcio Thomaz Bastos.