Título: Marta encontra Lula e avisa que será candidata em SP
Autor: Ricardo BrandtLeonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2005, Nacional, p. A11

Distante dos ataques envolvendo a crise que assola o PT, a ex-prefeita Marta Suplicy foi ontem a Brasília comunicar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que lançará no fim de semana sua pré-candidatura ao governo do Estado. O anúncio será feito no 16º Encontro Estadual do PT, que será realizado sábado e domingo, em São Paulo. Como resposta, Marta ouviu de Lula um "tudo bem" e ainda a garantia de que não interferirá na disputa interna do partido.

É que, como Marta, outros nomes devem entrar na batalha. O senador Aloízio Mercadante (PT-SP) é um deles. Seu nome já foi colocado como pré-candidato, inclusive com o apoio de Lula - que, no encontro de ontem, teria dito que a escolha será do partido.

O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) também teve o nome cogitado como possível pré-candidato - mas isso, antes do início da crise. Seu nome passou a ser considerado inviável, após ele ter sido relacionado nas denúncias envolvendo o mensalão. Até o nome do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, começou a ser citado nos últimos dias como terceira via.

A escolha do encontro estadual do PT para lançamento da candidatura de Marta não é por acaso. A reunião é encarada internamente como ponto de partida para a disputa das prévias do PT - quando os filiados escolhem, por voto, o candidato. As prévias devem ser marcadas para março do ano que vem.

Para a ex-prefeita e alguns de seus principais apoiadores, já é hora de começar a trabalhar a disputa eleitoral de 2006, até como forma de tirar o partido do imobilismo provocado pela crise. Além do encontro com o presidente, Marta tem feito visitas freqüentes a cidades do interior em busca de apoio. "Temos de ir para as ruas, falar dos êxitos da política econômica", se limitou a dizer Marta após o encontro.

Na entrevista, ela ponderou que o tema da sucessão não está no atual debate nem foi tema da audiência com Lula, mas sugeriu que usará as "conquistas" do governo federal nos discursos de candidata. "O assunto agora é a defesa intransigente do governo Lula e a proposta de conseguir colocar os êxitos da política econômica na boca do povo e na boca do PT", disse. "Não é pouco o que o governo já conseguiu."

Marta defendeu com veemência, na entrevista, uma dobradinha com o presidente no próximo ano, citando o projeto de bolsas em faculdades privadas para estudantes carentes como exemplo de ação bem-sucedida do governo federal.

EXPERIÊNCIA

Apesar dos setores que apóiam a candidatura de Mercadante difundirem que a rejeição em relação a Marta - mostrada nas urnas em 2004 - é um limitador para escolha de seu nome, o grupo denominado "martista" já definiu sua estratégia de reação. Querem mostrar que ela tem uma experiência de governo a ser avaliada e, ao contrário do que se pensa, há pontos positivos a serem explorados.

Avaliação de um petista do grupo que apóia a ex-prefeita é que sua administração em São Paulo (2001-2004) foi positiva. "O problema é que não conseguimos transferir a boa aceitação de seu governo para os eleitores nas urnas."

De fato, apesar de ter perdido a disputa pela reeleição para José Serra (PSDB), Marta terminou seu governo com o maior índice de aprovação, segundo mostrou pesquisa feita pelo InformEstado, no fim de 2004. Nela, pela primeira vez em seus quatro anos de governo, a soma de pessoas que considerou sua administração ótima ou boa superou a dos que avaliaram apenas como regular.

Lula, além de considerar o problema do índice de rejeição a Marta, também não esconde, segundo assessores do Planalto, o desapontamento com a ex-prefeita, que culpou o governo federal pela derrota para José Serra nas eleições de outubro do ano passado.

Ainda na entrevista, Marta ironizou o prefeito José Serra, que na semana passada anunciou que vai retomar um projeto educacional da administração dela. "Faço críticas muito sérias ao governo Serra, mas fiquei contente por ele dar para trás e fazer cinco CEUs na periferia", disse. "Isso mostra que as críticas que o PSDB fez na campanha não têm procedência."

COESÃO

Marta disse que Lula quer união e coesão do PT para fazer os enfrentamentos necessários daqui para a frente. "Como tenho dito, é preciso parar de ajoelhar no milho e sair da defensiva", disse a ex-prefeita. "Cometemos erros, sim, o partido tem de aprofundar essa discussão, mas temos também de pensar nos êxitos conquistados pelo governo Lula."