Título: Espanha reforça arsenal de Chávez
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2005, Internacional, p. A12
O governo espanhol firmou ontem um contrato bilionário de venda de aviões e barcos militares à Venezuela, apesar da oposição dos Estados Unidos. É o maior acordo do setor já negociado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, envolvendo recursos da ordem de 1,7 bilhões. Por esse preço, as empresas EADS-CASA e Navantia (estaleiro) entregarão às Forças Armadas venezuelanas 12 aviões - C-295 e CN-235 - e 8 embarcações para patrulhas costeira e de alto mar. "É um acordo digno de um país soberano e autônomo", disse numa clara referência às críticas da Casa Branca o ministro da Defesa espanhol, José Bono, ao presidir a assinatura do contrato com Chávez. E desferindo outra estocada nos Estados Unidos acrescentou: "O único império que existe é o da lei, e cumprindo a lei, como dizia Santo Agostinho, somos livres. Não há nenhum embargo internacional (contra a Venezuela). "
Bono insistiu em que seu governo está cumprindo suas obrigações relacionadas ao interesse nacional espanhol, às empresas espanholas, aos trabalhadores e às cidades onde as empresas mantêm plantas. "Não estou disposto a esta altura a reconhecer que há povos eleitos e outros menos eleitos por Deus", afirmou.
Ocorre, contudo, que 50% e 60% das peças e tecnologias usadas para fabricação dos aviões são fornecidas por empresas americanas. A Casa Branca já deixou claro, em mensagem enviada à Embaixada da Espanha em Washington, que os componentes americanos não poderão ser usados na encomenda de Chávez, um crítico contumaz da política externa dos Estados Unidos.
Para o comandante da Marinha venezuelana, almirante Armando Laguna, a restrição da Casa Branca não seria problema, porque as empresas fornecedoras poderão adquirir peças equivalentes às americanas nos mercados francês e alemão.
Chávez voltou a criticar o que classifica de "imperialismo" americano. Ele contestou com veemência a alegação dos Estados Unidos de que a venda de armas à Venezuela é um fator de desestabilização da região. "Eles (os EUA) continuam nos acusando de ser um perigo para a democracia no continente. Mas não puderam comprovar isso uma única vez em sete anos (período em que ele ocupa o poder na Venezuela), porque é falso."
Sobre esse temor dos Estados Unidos, o ministro da Defesa espanhol buscou um tom tranqüilizador. Esclareceu que os equipamentos vendidos à Venezuela são de natureza defensiva e para reprimir o narcotráfico no litoral do país.
O presidente venezuelano reiterou o agradecimento de seu país aos espanhóis "pela firmeza com que enfrentaram as pressões de Washington".
Segundo o jornal El País, Chávez forçou a presença do ministro da Defesa espanhol em Caracas como condição indispensável para a conclusão do negócio.
Em Madri, a oposição conservadora espanhola manifestou indignação. O secretário-geral do Partido Popular, Angel Acebes, classificou a política externa do primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero de sem propósito e ridícula. "Bono viajou a Caracas para vender armas contra a vontade de todos os espanhóis", concluiu.