Título: 'Ninguém queria que o caso fosse adiante'
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2005, Nacional, p. A14

Para deputado, sua denúncia não progrediu porque muita gente tem medo "daquilo que vem da esquerda e do PT"

Dono de uma retórica incansável, o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO) deu uma entrevista de duas horas ao Estado. A seguir, os principais trechos: Como explicar que ninguém tenha prestado atenção à sua denúncia contra o PT, na campanha de 1989?

Muita gente tinha o receio de que eu pudesse crescer em função disso. Então, ninguém queria que o caso fosse adiante. Mas há outra explicação. Nossos empresários, nossos profissionais liberais costumam se amedrontar diante daquilo que vem da esquerda e do PT. Ninguém quer se comprometer, todos acham que é melhor não se envolver. Têm receio de se prejudicar, mais tarde. Então assumem aquela postura de que é melhor deixar de lado e não fazer nada. Tenho certeza de que o caso foi abafado. O delegado e um promotor que estavam na investigação já haviam apurado quase tudo quando foram excluídos do processo. Mas eu acho que esse comportamento se mantém até hoje.

Como assim?

Se o Lula fosse ligado a qualquer outro partido já teria sido obrigado a sair do governo. Ou, no mínimo, estaria enfrentando um processo igual ao que sofrem os outros indiciados, deputados e ministros. Não vejo por que o caso dele é diferente. Está demonstrado, por vários indícios, que ele se envolveu com o esquema do PT. Não há dúvida de que o dinheiro de estatais foi usado para fazer campanha e pagou contas de seu marqueteiro no exterior. A empresa do filho recebeu dinheiro de uma prestadora de serviço público. Os senadores estão convencidos de que o dinheiro usado para pagar despesas do presidente saiu do caixa 2. Então eu pergunto: onde estão a CNBB, a ABI, a OAB? Só o acovardamento de empresários, de profissionais liberais, explica por que, até agora, ninguém deu entrada num processo de impeachment contra o presidente. Dizem que estão preocupados com aquilo que o povo vai dizer e pensar. Não pode ser assim. Quer dizer que, se houver uma revolta na favela da Rocinha ou no morro do Borel, ninguém vai fazer nada porque é preciso saber o que o povo vai pensar? Isso não é jeito de defender a democracia nem o Estado de Direito. Essa postura reflete uma política do PT, baseada nas idéias de Antonio Gramsci, de infiltrar-se na sociedade para dominá-la, a ponto de impedir que possa se defender.

O senhor faz muitas críticas ao governo Lula e ao PT. Mas a população comemora a queda no preço dos produtos agrícolas.

Acho um absurdo quando se comemora queda no preço do arroz, que caiu 47%, ou dos preços da batata e da soja, que também caíram. Para o produtor, os custos não caíram tanto. Alguns até subiram. Essa queda apenas reflete o desespero do produtor, que está vendendo sua mercadoria de qualquer maneira, porque foi abandonado pelo governo. É por isso que os preços estão caindo. É a venda do desespero, de quem não tem alternativas.

Mas Roberto Rodrigues é considerado um bom ministro.

Ele é um bom ministro. Tem currículo. Mas é usado pelo governo para arrefecer o descontentamento dos agricultores. O orçamento do ministério é 100% contingenciado e ele fica sem poder. O governo do PT conseguiu inverter a curva da produção agrícola. A melhor safra foi de 2003, de 123 milhões de toneladas de grãos, mas isso refletia o plantio no governo anterior. Em 2004 a safra já caiu para 119 milhões de toneladas. Em 2005, será de 111 milhões. A previsão para 2006 é de ficar em 100 milhões. Este é o primeiro governo que faz isso. Historicamente, a safra agrícola sempre subiu, um pouco mais devagar, um pouco mais depressa.

Como o senhor vê a sucessão presidencial?

Estamos discutindo nomes no vazio. Não acredito em nenhum candidato que está aí. O grande candidato de oposição ainda não apareceu. O que nós estamos vendo é um desenho do passado . Os nomes mais falados servem para os analistas políticos, para as pesquisas, mas não aconteceram. O eleitor está indignado com este governo, mas ainda não emergiu o nome que vai expressar essa indignação. O descrédito nos políticos é muito grande. Mas, por enquanto, o País está totalmente órfão.

Este parece o raciocínio de quem está querendo ser candidato a presidente.

Não sou candidato a presidente. Já fui uma vez. Sou candidato a deputado federal e nos próximos dias começo a visitar cidades pelo interior do Goiás.