Título: Para qyem vive na linha da pobreza, é difícil ver melhora
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

Desenhista, com a quinta série incompleta, William Barbosa dos Reis, 37 anos, não consegue emprego há 12 anos, e sobrevive catando papel. Há três anos ele passa o dia na rua atrás de papelão, plástico, latas e qualquer material reciclável para tirar por mês no máximo R$ 200. Quando agüenta, no fim de semana guarda carros em algumas ruas da cidade. "Como flanelinha ganho mais um pouco e no fim do mês, somando, acho que dá uns R$ 300." Sem mulher e filhos, morando como albergado no Projeto Oficina Boracea, da Prefeitura de São Paulo, que abriga moradores de rua, ele não percebe nenhuma mudança na sua situação. "Ganho mais ou menos o mesmo que o ano passado. Acho que antes de ser carroceiro, quando só tomava conta de carros na rua, a vida era um pouco melhor. Ficava perto do Hospital das Clínicas. Mas depois construíram um estacionamento e aí perdi o ponto."

Há quatro anos empurrando carroça, Luiz de Souza Bezerra, 45 anos, ganha R$ 250 por mês e diz que só vê sua situação "descambar." Ele já trabalhou na construção civil, mas acha muito difícil voltar a ser servente de obra por causa da idade. "Até o mercado de catador de papel está mais concorrido. Tem caminhão fazendo esse serviço."

Ao chegar ao Rio, em 2003, após uma temporada na Paraíba, sua terra natal, Vitor de Oliveira, de 34 anos, levou dois meses para conseguir o que o trouxe de volta ao Sudeste: um emprego. Funcionário da Nova Rio, empresa de conservação e limpeza, Vitor ganha pouco mais que um salário mínimo. Porém, o aumento de R$ 260 para R$ 300, concedido pelo governo Lula não significou, em sua opinião, uma efetiva melhoria de vida. "Quando o salário era de R$ 260, eu ganhava R$ 318. Depois que foi para R$ 300, passei a ganhar R$ 331. Fiquei defasado", acredita."Tudo aumentou. Só o nosso salário está congelado", lamenta, enquanto cozinha uma panela de feijão usando lenha, para economizar gás. Ele alugava um quarto, mas hoje mora num barraco num terreno invadido no bairro da Saúde, zona portuária, onde não paga nada. "Tenho vontade de voltar para Nordeste", diz.Por 14 anos Vitor morou em São Bernardo do Campo, onde foi metalúrgico. Naquela época, sim, garante, o salário era bom.