Título: Caso Santo André consome Suplicy
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2005, Nacional, p. A10

Senador insiste em investigar a motivação da morte de Celso Daniel e enfrenta resistências do próprio PT

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) é um caso único de petista mais empenhado em esclarecer o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, do que em abafar o caso. Ele está tão engajado nas investigações que já recebeu da CPI dos Bingos - comissão dominada por oposicionistas - a delegação de acompanhar interrogatórios dos executores do crime. Boa parte dos documentos sobre o caso encaminhados à CPI, aliás, chega primeiro ao gabinete de Suplicy antes de ser analisada pela comissão. "Pelo que pude até agora examinar, acho que é necessário ainda se aprofundar no depoimento das testemunhas", diz. Tanto empenho tem rendido ao senador certa hostilidade no partido. Na última sexta-feira, por exemplo, houve um episódio significativo durante Encontro Municipal do PT em São Paulo. Quando o nome de Suplicy foi anunciado, houve um ensaio de vaia que acabou sendo abafado pelas palmas da maior parte da platéia. "Uma fatia do PT não compreende minhas ações", afirma o senador.

Como de hábito, ele vai em frente. Amanhã acompanhará, em São Paulo, a acareação dos supostos executores do assassinato do prefeito com o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, denunciado pelo Ministério Público como mandante do crime. Suplicy chama a tudo isso de "precaução para não chegar a uma conclusão antes de esgotar os estudos de todas as evidências".

Vem de longe a conexão do senador com os esforços para elucidar o caso Santo André. Em 2002, ele foi procurado pela empresária Rosângela Gabrilli, dona de companhia de ônibus da cidade. Ela se dizia vítima de retaliação da prefeitura por ter denunciado esquema de extorsão montado no município em benefício do PT. Suplicy lhe deu apoio, embora diga não ter certeza da versão de Rosângela.

"Isso precisa ser melhor aprofundado. Acredito que ainda temos campo importante de averiguação. Os documentos evidenciam que houve contribuição recolhida da parte dos empresários de transporte público", diz o senador. "Qual a destinação dos recursos? Ainda não sabemos totalmente."

Ninguém sabe ao certo aonde Suplicy vai chegar em sua determinação e há quem preveja que ele cederá à pressão dos petistas insatisfeitos. Não é o caso do presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB). Ele acredita que "nos momentos finais" prevalecerá o que chama de "espírito de oposição de Suplicy". "Não tenho dúvidas de que, entre a verdade e o partido, ele ficará com a verdade", prevê. Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), Suplicy vive "quase um drama": "É difícil imaginar como é que ele vai se sair dessa."