Título: Ministra se declara 'soldado kirchnerista'
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2005, Economia & Negócios, p. B8

"Sou um soldado kirchnerista." A declaração de enfática lealdade ao presidente Néstor Kirchner foi pronunciada meses atrás por Felisa Miceli, transformada ontem na primeira ministra da Economia da história argentina. Miceli foi definida pelos analistas como uma economista low profile, de absoluta confiança de Kirchner, obediente ao governo, que dificilmente poderia irritar o presidente com aspirações políticas próprias, como fez seu antecessor, Roberto Lavagna. Os amigos da nova ministra dizem que sua maior virtude profissional é que, ao negociar, ninguém sabe o que ela está pensando. Miceli, 52 anos, casada com um pequeno empresário e com três filhos, formou-se em Economia na Universidade de Buenos Aires. Militante do Partido Justicialista (peronista), foi diretora do Banco de la Provincia de Buenos Aires de 1983 a 1987.

Depois, foi consultora dos governos federais e provinciais para financiamentos de projetos de investimentos. Miceli tem fortes vínculos profissionais com Lavagna, pois trabalhou na Consultoria Ecolatina, fundada e comandada até poucos anos atrás pelo ex-ministro. Ela o conheceu nos anos 70, quando estudava Economia, e Lavagna era ajudante de cátedra.

Em junho de 2003, um mês após a posse de Kirchner na Presidência, Miceli foi designada para a presidência do estatal Banco de la Nación, a maior entidade financeira do país. No comando do banco, Miceli resistiu às pressões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para "reformar" a instituição ou realizar uma eventual privatização. "Falar em privatizações me faz mal", declarou.

A ministra segue em parte a linha de seu antecessor, ao criticar a década de 90, ou seja, o período de governo do ex-presidente Carlos Menem (1989-99). Segundo ela, foi a "década infame". Ela também encara o neodesenvolvimentismo como uma opção ao neoliberalismo.

Miceli possui forte personalidade, dizem seus assessores no Banco de la Nación, e com freqüência mostra que é uma "garota Kirchner", em alusão ao modo direto de ser, sem papas na língua, dos integrantes do entourage presidencial. Ela já mostrou esse estilo aos representantes do FMI. Em mais de uma ocasião, quando se reuniu com eles, comentou com placidez que se recusa a falar em inglês: "Falemos em castelhano, pois isto aqui é a Argentina".