Título: Itamaraty já se conforma com acordo parcial
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2005, Economia & Negócios, p. B11

O Brasil não acredita em um acordo na reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Hong Kong, mas espera conseguir um compromisso para a eliminação de todos os subsídios agrícolas à exportação até 2010, segundo o embaixador Piragibe dos Santos Tarrago, diretor-geral do departamento econômico do Ministério das Relações Exteriores. "Se for definida uma data para a eliminação dos subsídios a exportação, c! ria-se um efeito psicológico positivo, favorável à negociação", disse Tarrago, depois de participar de seminário realizado ontem na Câmara Americana de Comércio. De acordo com dados do Ícone, os subsídios às exportações agrícolas totalizam hoje US$ 3 bilhões por ano. O total dos subsídios que distorcem o comércio chega a US$ 100 bilhões anuais. Segundo Tarrago, o atraso das negociações é tamanho que não será possível concluí-las em dezembro. "É praticamente impossível chegar a um acordo em Hong Kong, mas esperamos uma redução progressiva das tarifas e o máximo de corte nos subsídios", diz. De acordo com o diplomata, prevalece a inquietação entre os países em desenvolvimento.

"Por causa da pressão dos países protecionistas em agricultura,! a rodada pode ficar bem menos ambiciosa do que era esperado", disse. "Nos preocupa o fato de os países europeus terem elevado muito a cobrança dos países em desenvolvimento para abertura de produtos industriais e serviços, em troca de uma proposta mínima para agricultura. Essa é uma receita para o impasse."

Segundo Tarrago, a abertura em produtos industriais virá "na esteira" do que for possível alcançar em agricultura, e as reduções de tarifas dos produtos industriais devem ser "equivalentes" às de produtos agrícolas. "Não desejamos que o fosso que hoje existe entre tarifas industriais e agrícolas aumente." O Brasil está disposto a cortar suas tarifas industriais consolidadas (as tarifas máximas registradas na OMC, não as efetivamente aplicadas) em 50%.