Título: Dirceu promete continuar luta para recuperar direitos políticos
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Nacional, p. A4

O ex-deputado José Dirceu (PT-SP) afirmou ontem que vai lutar para recuperar seus direitos políticos, suspensos até 2015 por decisão da Câmara. "Estou totalmente convencido da minha inocência e vou continuar lutando para provar isso. Vou continuar lutando para readquirir meus direitos políticos. Foram tomados de forma violenta", disse Dirceu, durante entrevista coletiva.

O caminho não seria um recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF): "Não tenho mais ânimo (para isso)", avisou. A idéia seria outra: assim que acabem as CPIs em curso e não se comprove a existência do mensalão, alguém apresente ao Congresso um projeto de anistia para ele, sob o argumento de que a cassação foi injustificada.

Há precedentes. Em janeiro de 1995 o Congresso anistiou o então senador Humberto Lucena (PMDB-PB), cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por improbidade administrativa. Lucena mandara confeccionar material de propaganda na Gráfica do Senado. Com a anistia, a decisão do TSE foi anulada. Outro projeto, ainda em curso no Senado, pretende anular a cassação do casal João e Janete Capiberibe (ele senador, ela deputada, pelo PSB do Amapá), cassados pelo TSE após uma denúncia de compra de votos por R$ 26.

Dirceu disse que sua cassação foi política, não pelos seus erros, mas pelas qualidades. "Cometi muitos erros, mas não fui cassado por eles". Reafirmou que não foi cassado por corrupção. "Tenho as mãos limpas. Minha cassação é política."

FUTURO

Quanto ao futuro, disse que não vai se afastar da vida política, mesmo sem mandato. "Sou ex-deputado, ex-ministro, ex-presidente do PT. Sou apenas José Dirceu". Planeja montar um escritório de advocacia e terminar, com o jornalista e escritor Fernando Morais, um livro sobre seus 30 meses na Casa Civil. "Espero que venda muito, porque preciso de renda". Não ser um livro chapa-branca, adiantou. "Vou fazer o livro no limite. Tudo o que for necessário relatar, vou relatar. Mas é claro que não vou abrir segredos de Estado". No início do ano passará três meses nos Estados Unidos.

O ex-deputado disse que dói muito ser cassado e perder o mandato. "Para mim, é como se tivesse perdido minha própria vida. Não pelo cargo. É uma dor que você não pode imaginar. Espero ter força suficiente para superar isso". Ele admitiu que foi difícil dormir nos últimos meses e que errou muito quando esteve na Casa Civil.

Condenou o caixa 2 dos partidos mas defendeu o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. "O Delúbio cometeu erros", afirmou, "e está pagando por eles, mas é uma pessoa honesta, de vida simples. Ele não pegou nada para ele. Não recebê-lo no Palácio do Planalto, nem o Silvinho (Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT), é que seria o errado".