Título: Lula diz que não havia provas para cassação
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Nacional, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou ontem publicamente a cassação do mandato do deputado José Dirceu (PT-SP), seu ex-ministro da Casa Civil, a quem chegou a classificar, em outros tempos, de "capitão do time". "Todo mundo aqui sabe da relação de amizade, de carinho, que eu tenho pelo Zé Dirceu. Todo mundo sabe o quadro político importante que ele é', afirmou o presidente, ao discursar durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), no Palácio do Planalto. "O dado concreto é que eu acho que poderiam, antes de julgá-lo, ter provado o que diziam do Zé Dirceu. Não fizeram isso ontem", disse o presidente, depois de registrar que o Congresso é soberano para tomar suas decisões. "A história vai se encarregar de colocar as coisas às claras nos próximos meses."

Lula ressaltou que, ao lado da informação sobre a queda de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano (ver Caderno de Economia), a cassação de Dirceu o fez "pensar um pouco mais". Foi um discurso de improviso, com entonação tranqüila, sem o tom agressivo já exibido em momentos de maior irritação.

Lembrou que, há um mês, ao participar do programa Roda Vida, da TV Cultura, havia mencionado que, da maneira como o processo estava sendo encaminhado, o Congresso se veria "quase na obrigação" de cassar o mandato de Dirceu. "Se não o cassasse, seria negar tudo o que foi feito", acrescentou.

PENA DE MORTE

Mais contundente, o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, Jaques Wagner, declarou, na abertura da reunião do CDES, que a cassação de Dirceu foi "um fato traumático para a democracia do Brasil". Acrescentou que o processo foi "contaminado". A opinião foi compartilhada, sucintamente, pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

O secretário de Relações Institucionais, entretanto, foi além ao mencionar que o processo contra Dirceu seguiu "critérios subjetivos". Defendeu ainda que a cassação do mandato de um político "equivale à pena de morte" e criticou o fato de o Brasil ser "o único país" em que o Congresso cassa seus integrantes. "Em todos os outros países o Parlamento instrui o processo e o envia para a Justiça", argumentou. "A relação no Parlamento é sempre de jogar para a torcida", completou.

Ao final da reunião, Wagner afirmou que não poderia comentar uma "decisão tomada", mas ressaltou que, para o PT e para o governo Lula, a vida continua. Ele confirmou ter falado com Dirceu antes da cassação, para lhe desejar "boa sorte"na votação. "Ele teve um papel extremamente importante e continuará tendo. A veia política é a principal do Zé Dirceu", observou o ministro. E completou: "É evidente que estou triste, é um amigo meu que foi cassado. Considero cassação, de quem quer que seja, como pena de morte. Portanto, para ser executada tem de haver convicção plena, absoluta e material."