Título: Dirceu revela mágoa com atuação do presidente
Autor: Vera RosaExpedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Nacional, p. A7

O deputado cassado José Dirceu (PT) está muito magoado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Acha que ele não moveu uma palha para salvá-lo, embora tenha lamentado publicamente o seu fim. Para alguns aliados que visitaram o apartamento de Dirceu na madrugada de ontem, após a cassação, o ex-chefe da Casa Civil reclamou do abandono do governo. "E agora, José?", perguntou a ele o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que está sendo processado pelo Conselho de Ética da Câmara, quando foi anunciado o placar que selou o futuro político do ex-ministro mais poderoso de Lula. "Eu vou jogar tudo para o alto", ameaçou Dirceu. Depois, resignou-se: "A luta política é assim mesmo. A gente não tem que se abater."

Dirceu não sabe de fato o que vai fazer. Alterna momentos que vão da irritação ao bom humor. "Ele é ciclotímico e esperava uma ajuda maior do governo", contou o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), um dos parlamentares petistas que estiveram com Dirceu na madrugada.

PROTOCOLAR

Lula telefonou na noite de quarta-feira para seu ex-ministro, minutos antes de começar o julgamento no plenário da Câmara. Passava um pouco das 19 horas e o então deputado ainda estava na sala da liderança do PT. "Estamos juntos", disse o presidente, que lhe desejou boa sorte. Foi um telefonema protocolar, sem emoção.

Horas depois, ao saber da cassação já esperada - e prevista por ele mesmo -, Lula criticou o Congresso. "Querem me atingir. Isso é uma vingança contra o governo para dar uma satisfação à sociedade", afirmou.

Para os petistas que passaram a pior madrugada da vida de Dirceu com ele, a cassação poderia ter sido evitada se o governo tivesse agido para reverter os 36 votos que acabaram determinando o desfecho desfavorável.

Na tarde de ontem, funcionários de Dirceu já limpavam as gavetas e se preparavam para desocupar o gabinete. Menos de 24 horas depois da cassação, o nome de Dirceu também foi retirado da lista de parlamentares do site da Câmara.

A queda do ex-chefe da Casa Civil foi o assunto de ontem da reunião de coordenação política - o ex-núcleo duro, idealizado pelo próprio Dirceu. Embora o governo tenha abandonado o petista à própria sorte, o clima no Palácio do Planalto era de tristeza. Ex-companheiros de Dirceu, Clara Ant e Gilberto Carvalho, hoje assessores do presidente, choraram.

Na reunião a portas fechadas, Lula não conteve as críticas ao PSDB e ao PFL, que, no seu diagnóstico, querem vê-lo sangrar até a eleição de 2006. Mais: disse que é preciso retomar a "disputa política" com a oposição e sair da defensiva.

"A oposição só se sacia de devorar devorando", resumiu o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), um dos interlocutores palacianos.

Lula recomendou aos petistas que não dêem trégua à oposição. "O foco da oposição é o PT, a esquerda e o Lula. É lógico que eles nos sangraram, já que o ataque é virulento, mas o tom da disputa também vai aumentar", avisou o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS). "Vamos fazer comparações entre o nosso governo e o deles."