Título: Filho de ex-deputado reclama de 'julgamento inconseqüente'
Autor: Evandro Fadel
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Nacional, p. A8

Depois de passar boa parte da noite e madrugada em frente à TV e de ter acordado cedo para ver os noticiários, o prefeito de Cruzeiro do Oeste, José Carlos Becker de Oliveira e Silva (PT), no noroeste do Paraná, a 570 quilômetros de Curitiba, classificou como "julgamento inconseqüente" o que cassou o mandato de seu pai, ex-deputado José Dirceu. "Tentou-se passar a impressão de que era julgamento político, mas nem isso chegou a ser." Segundo ele, ficou muito clara a não existência de provas ou de fatos concretos. "Isso cria precedentes que são ruins para a democracia, que são ruins para o Congresso, por isso a gente tem que lamentar."

Zeca Dirceu, como é conhecido, não conseguiu assistir ao discurso do pai anteontem. Chegou em casa somente às 21h30 e colocou-se em frente à televisão. As luzes da casa foram apagadas às 23h50, pouco antes do voto decisivo da cassação, mas a TV continuou ligada.

ENERGIA

Para o prefeito, seu pai já provou em outras ocasiões que não precisa de cargo para fazer política e contribuir com o País. "Ele tem 59 anos de idade, mas é sangue bom. Meu avô viveu até quase os 90 anos. Portanto, ele tem ainda muito chão pela frente. Se engana quem acredita que essa é uma aposentadoria dele. Pelo contrário. Ele vai redobrar o entusiasmo", assegurou. "Ele continua tendo uma história invejável, que ninguém vai tirar dele, que ninguém vai apagar. E continua tendo a energia, a mesma garra, a disposição, a determinação de lutar pelo Brasil."

Acusado de ter sido beneficiado pelo governo federal, em razão da influência de seu pai, Zeca ressaltou mais uma vez que isso nunca existiu nem pretendia se aproveitar dos cargos de seu pai para tirar proveito para a prefeitura. "Nunca sobrevivi, nunca me pautei, nunca me escorei em privilégios na vida toda", ressaltou.

O debate sobre a cassação de Dirceu não conquistou a população de Cruzeiro do Oeste, onde o ex-deputado morou entre 1975 e 1979, quando vivia na clandestinidade. Espontaneamente este não é o assunto que brota nas conversas.

Mas no Salão do Baianinho o papo rola. "É um marco ruim na política brasileira", criticou o proprietário, o cabeleireiro Edivaldo Ferreira de Lima. Segundo ele, não havia provas para a cassação. "O pensamento de quem está lá no Congresso é a reeleição e não a Nação."