Título: Palocci não pode ser o próximo alvo, diz FHC
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Nacional, p. A9

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que nem o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, nem qualquer outro integrante do primeiro escalão do governo devem passar a ser alvos da oposição, depois da saída de cena do ex-chefe da Casa Civil, o agora deputado cassado José Dirceu (PT). "Não acho que a oposição deva se dirigir para derrubar pessoas . Não foi a oposição que levantou questões contra o governo. Não cabe a nós ficarmos agourando um caminho de dificuldades nem para o ministro da Fazenda nem para nenhum ministro", afirmou. "Apenas digo que se houver alguma coisa que venha a público, as conseqüências serão tiradas. Mas não estou torcendo para isso", acrescentou Fernando Henrique, que ontem foi a Recife para receber o título de Cidadão Pernambucano e almoçou com o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), no Palácio do Campo das Princesas.

Ao ser indagado se considerou merecida a cassação de José Dirceu, o ex-presidente alertou: "Ninguém pode comemorar uma cassação."Apesar do comentário contido, disse acreditar que a cassação do ex-chefe da Casa Civil não livra o PT da pecha da corrupção. "É uma pena. Imaginei que o Brasil tivesse progredido mais. Nunca pensei que um homem com essa trajetória fosse se comprometer a ponto de ser cassado".

O ex-presidente considerou que outros casos de cassação poderão ser avaliados, e disse que a sua maior preocupação no momento é com o que chamou de "anestesia moral". "Casos tão graves aparecem, aparece prova, demonstra e depois não acontece nada", disse. E cobrou: "Tem que acontecer.".

Fernando Henrique ressaltou ainda que o que está em discussão não é caixa 2, "ilegal por definição", nem dinheiro do setor privado não declarado para campanhas políticas. "O que está em discussão é dinheiro público usado para o financiamento do partido, recursos públicos desviados para serem utilizados por partidos até fora das eleições", afirmou. "Por isso é muito grave o que ocorreu com o Brasil."

Mas o ex-presidente afirmou que o discurso do PSDB nas eleições de 2006 não deve ser baseado em acusações. "O partido tem que apontar um caminho", anotou ele.