Título: Petista diz que é 'erro sanável' ter usado caixa 2
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Nacional, p. A9

O deputado João Magno (PT-MG) fez uma correção de sua prestação de contas à Justiça Eleitoral, mas não conseguiu aliviar sua situação no Conselho de Ética da Câmara em que responde a processo de cassação. Em depoimento ontem no conselho, Magno classificou de "um erro sanável" o fato de ter usado em duas de suas campanhas eleitorais recursos não registrados na Justiça, ou seja, de caixa 2. Em 2002, quando foi eleito deputado, João Magno recebeu para pagar despesas de campanha R$ 126 mil do esquema montado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. No ano passado, quando concorreu à prefeitura de Ipatinga, João Magno recebeu R$ 300 mil também repassados por Delúbio e Marcos Valério. Em 2002, do total de recursos, R$ 41 mil foram depositados diretamente na conta de Magno pela SMPB, empresa de Marcos Valério, e em 2004, os R$ 300 mil em dinheiro foram entregues ao tesoureiro da campanha do deputado na SMPB.

"Recebi porque era dinheiro limpo", argumentou o deputado, ressaltando que houve o princípio da boa-fé. Para tentar corrigir o que chamou de "erro sanável", Magno entregou no dia 17 de outubro passado no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais complementação de sua prestação de contas da campanha de 2002 e de 2004 reconhecendo os valores que recebeu.

"Aparentemente, parece que somente após a divulgação dos fatos o senhor resolveu prestar contas", observou o relator do processo de cassação, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), o mesmo relator do processo contra Roberto Jefferson (PTB-RJ). Carneiro referia-se ao fato de a correção na Justiça só ter sido feita depois de o parlamentar ser envolvido nas denúncias do esquema de mensalão.

PROMESSA

A responsabilidade por tanta demora em prestar contas do dinheiro à Justiça Eleitoral foi atribuída pelo deputado ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. João Magno afirmou que por reiteradas vezes cobrou de Delúbio um documento formal que comprovasse o pagamento. "O tesoureiro prometia, mas nada. Não dependia de mim." João Magno ressaltou que tem as notas dos pagamentos feitos com o dinheiro repassado para as suas campanhas, e que não fez uso dos recursos para seu enriquecimento.

O petista afastou reflexos da cassação do mandato do deputado José Dirceu (PT-SP) ao seu processo disciplinar. Para ele, o Conselho de Ética saberá separar e analisar cada caso de forma individual.

O deputado Professor Luizinho (PT-SP), outro parlamentar que responde a processo de cassação, concorda. "O conselho vai analisar cada caso. Haverá uma individualização", disse Luizinho, repetindo que não há nenhum envolvimento dele com o suposto esquema.