Título: 'Palocci pegou carona, mas meu avião nunca ficou à disposição'
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Nacional, p. A10

Dono do avião que teria transportado US$ 3 milhões de Brasília para o diretório do PT de São Paulo, o empresário José Roberto Colnaghi quebrou ontem o silêncio. Afirmou, em entrevista ao Estado, que em 2002 emprestou o Sêneca ao então secretário de Fazenda de Ribeirão Preto, Ralf Barquete, mas garante que ficou surpreso com a denúncia de que o avião teria transportado uma doação de Cuba para a campanha do presidente Lula. "Desconhecia até poucos dias atrás a identidade do passageiro, bem como a sua bagagem", diz. Colnaghi conta que o ministro da Fazenda e prefeito de Ribeirão até 2003, Antonio Palocci, "pegou carona" em seus aviões algumas vezes. Mas pondera: "Meu avião nunca ficou à disposição dele, nem de outra pessoa ou partido para campanha eleitoral."

O empresário faz questão de ressaltar que é filiado ao PFL e nunca trocou favores com o governo Lula: "Essa história de que eu usaria uma aproximação com Palocci para obter benefício para minhas empresas não existe." A seguir, os principais trechos da entrevista:

O senhor é amigo de Palocci?

Não sou amigo pessoal dele. Sou apenas conhecido, temos um relacionamento cordial, como ele mesmo disse. Nunca almoçamos juntos e nem sei onde fica a casa dele, nem em Ribeirão nem em Brasília. Essas coisas que disseram - de que eu usaria a amizade para conseguir benefício no governo e que eu andava com ele em Ribeirão -, são mentiras.

Mas ele usou o jatinho Citation do senhor. Como vocês se conheceram?

Conheci Palocci pelo Ralf Barquete, que morou em Penápolis e estudou no mesmo colégio que eu. Numa ocasião, em 2002, o Ralf pediu carona no meu avião. Palocci estava com ele, em São Paulo, e foram até Ribeirão. Foi quando o conheci.

Ele usou o avião outras vezes?

Sim, poucas vezes, três ou quatro, sempre de carona. Meu avião nunca ficou à disposição dele, nem de outra pessoa ou partido político para campanha eleitoral. E nunca foi usado por Palocci quando já era ministro.

E sobre o vôo que teria transportado US$ 3 milhões vindos de Cuba?

O que sei é que em 31 de julho de 2002 o avião Sêneca foi emprestado para um vôo de Brasília a São Paulo, a pedido do Ralf. Ele disse que precisava levar um passageiro a São Paulo e eu emprestei. Desconhecia até poucos dias atrás a identidade do passageiro (o economista Vladimir Poleto), bem como a sua bagagem.

O senhor conhece Vladimir Poleto? E o advogado Rogério Buratti (ex-secretário de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto)?

Sim, os conheci através de Ralf; Poleto trabalhava na prefeitura de Ribeirão e Buratti, na empresa Leão Leão.

E o Ademirson Ariosvaldo Silva, secretário de Palocci? E o Roberto Carlos Kurzweill, dono de Ômega alugado pelo PT, que também teria sido usado para transportar os dólares?

O Ademirson eu conheci através do meu sócio, o Mário José Costa Júnior, e somos apenas conhecidos. O Mário, sim, é amigo dele. Kurzweill não conheço.

O senhor já teve ou intermediou algum negócios com eles?

Nunca tive nem intermediei negócios com eles. E nunca tive qualquer relação comercial com a prefeitura de Ribeirão Preto quando Palocci era prefeito ou mesmo em outra época qualquer. Minhas empresas não tiveram financiamento do BNDES, por exemplo, e estão à disposição das autoridades.

A imprensa noticiou que o senhor teria negociado, por intermédio de Poleto, a venda de um banco para os angolanos.

Nesta época, Poleto trabalhava no Banco Prosper, e o presidente do Banco Regional do Keve, de Angola, o senhor Amílcar Silva, manifestou interesse do Keve em investir num banco no Brasil. O que fiz foi apresentar o presidente do banco ao pessoal do Prosper, que seria proprietário do Equit, nada mais.

Então o senhor tem realmente negócios em Angola? Quais são?

Sim. Desde de 2002/2003, quando a guerra angolana já tinha terminado. Exportamos equipamentos e máquinas para lá por meio de três empresas nossas.

Quais empresas?

Asperbras Nordeste, Asperbras Bahia e Asperbras Importação e Exportação (Agripek). Mas ressalto que nunca usamos linhas diretas de financiamento do governo brasileiro. As exportações sempre foram pagas 100% com dinheiro angolano. Nunca houve dinheiro repassado pelo governo brasileiro garantindo qualquer negócio das minhas empresas.

E o caso do Proex?

Não se trata de um financiamento direto. Foi uma operação regular, normal de mercado, que é desconto de uma carta de crédito. Foi uma antecipação solicitada em 2005, não em 2001. E foi a única vez, desde que iniciamos as exportações, em 2003, que uma de nossas empresas descontou uma carta de crédito no Banco do Brasil. Trata-se de operação legal. Qualquer exportador que tem carta de crédito pode pedir a antecipação.

Como o senhor vê essas denúncias?

Sou uma pessoa simples, que não gosta de ter a vida exposta e segui orientação de meu advogado. Esperava que essa história não fosse me atingir, mas perdemos os domingos e a vida da minha família foi muito prejudicada. Meus filhos sofrem humilhação na escola e as pessoas na cidade, que é pequena, fazem comentários que não são verdadeiros por conta dessas ilações publicadas na imprensa. Sempre emprestei meus aviões para pessoas que necessitam. Além disso, minha empresa, que existe desde meu avô, não é a maior do Brasil como a mídia afirmou, há muitas outras no setor bem maiores. Gostaria que essa entrevista encerrasse de vez com essa história.