Título: 'A verdade muitas vezes pode parecer ridícula'
Autor: Rodrigo Morais
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Nacional, p. A13

Em carta enviada à CPI dos Correios na qual reconhece que "a verdade muitas vezes pode parecer ridícula" e fala na "má sorte" que vem "dando durante todo esse ano de 2005", o publicitário Duda Mendonça reitera a versão de que repassou R$ 10 mil ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para pagar uma aposta. Diz ainda que recebeu em sua conta R$ 19.756,06 da corretora Stockolos Avendis EB Empreendimentos sem conhecer a empresa, "muito menos o seu dono". A corretora pertence ao doleiro Lúcio Funaro, também um dos fundadores da corretora Guaranhuns Empreendimentos, repassadora de dinheiro do esquema de caixa 2 montado pelo empresário Marcos Valério de Souza e por Delúbio Soares.

O pagamento e o recebimento suspeitos foram revelados pelo Estado no dia 29. Os dados foram obtidos pela CPI dos Correios depois de dois meses de investigação das operações bancárias de Duda, marqueteiro da campanha de Lula em 2002.

O publicitário diz que a fazenda de sua propriedade no Pará, chamada Barra Mansa, vendeu 120 bois ao Frigorífico Frigopar por R$ 104.560,00. Os R$ 19,7 mil de Funaro seriam a segunda parcela do pagamento. O publicitário anexou cópias das duas transferências bancárias, uma do Frigopar e outra "da tal Stockolos a mando do frigorífico".

"A coincidência é incrível, lamentavelmente, mas não tenho nada com isso", diz Duda na carta. Os pagamentos foram feitos na conta pessoal dele na agência do Banco do Brasil da cidade paraense de Xinguara.

Sobre a aposta, Duda diz que foi feita "num arroubo de otimismo", quando garantiu a Delúbio que Lula venceria o tucano José Serra no primeiro turno. Duda diz que apostou R$ 10 mil seus contra R$ 1 mil de Delúbio. "Ganhamos a eleição, mas eu perdi a aposta."

Segundo ele, Delúbio não queria receber o dinheiro: "Ele preferia não receber para continuar rindo de mim." Até que o publicitário fez o depósito na conta do ex-tesoureiro no dia 1º de setembro de 2003. Duda diz na carta que "muitas pessoas importantes sabem desse episódio", mas que não citaria o nome de nenhuma delas "por uma questão ética".

O publicitário passou a ser investigado pela CPI depois de revelar que recebeu R$ 10,5 milhões por serviços prestados ao PT na conta Dusseldorf, no paraíso fiscal das Bahamas. O dinheiro não foi declarado à Justiça Eleitoral.

Na carta, Duda diz aos parlamentares da CPI que pagou R$ 4,3 milhões de impostos "para legalizar a situação", pois os recursos também não tinham sido informados à Receita Federal.