Título: Alckmin diz que vai caçar votos fora de SP
Autor: Carlos Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Nacional, p. A15

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deixou a cautela de lado ontem, em almoço promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), reunindo os maiores empresários de comunicação do País, e disse que está disposto a buscar votos fora do Estado de São Paulo na disputa pela Presidência em 2006. Ele falou, como fizera no dia anterior, do seu entusiasmo com a pré-candidatura. Alckmin contou que, aos 23 anos, quando buscava votos para se eleger prefeito de Pindamonhangaba, no interior paulista, foi visitar famílias que moravam a 12 quilômetros da cidade e ficou 40 minutos convencendo uma delas a votar nele.

"Ao me despedir, eles pediram dinheiro para a passagem. Lembrei que votavam na escola em frente. Então, me explicaram que votavam na cidade mineira de Itajubá", contou. "Agora, eu vou resgatar esses votos. Eles, agora, vão ter a chance de votar na minha candidatura."

Alckmin acredita que o PSDB deve decidir seu candidato a presidente antes de março, prazo final para os governantes que postulam outros cargos deixarem seus postos. Na avaliação do governador, a tendência do PSDB é não ter disputa interna. "O caminho é buscar entendimento antes da convenção."

O governador vê no páreo o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador de Minas, Aécio Neves. Ele acredita que a plataforma é que vai diferenciar os postulantes e revelou a sua: "Temos compromisso com o rigor fiscal, mas também com o desenvolvimento. É preciso ter um projeto claro de crescimento." Para Alckmin, o currículo da sua gestão em São Paulo é a sua principal arma.

Ele também criticou a política de juros do governo Lula. "Estamos vivendo num céu de brigadeiro e vemos, sem explicação, a queda do PIB, enquanto a economia mundial cresce fortemente."

Para Alckmin, não se pode arriscar os ganhos da estabilidade e o controle da inflação, mas não se pode permitir que os juros tenham esse impacto negativo no crescimento e no aumento excessivo da dívida pública.

Alckmin acabou por fazer um desabafo. "Já fui vereador, cheguei a prefeito aos 23 anos, estamos há 12 anos no comando do Estado de São Paulo, primeiro como co-piloto de Mario Covas, depois no manche. Agora, esse ciclo se encerra e começa outro."

O governador também falou de ética na política. "Precisamos resgatar o conceito de política, visto por alguns como um clube de má fama. Política é coisa boa, quando feita com honestidade, é um ato cristão de servir ao povo, não um instrumento para se apoderar do poder."

Quanto à cassação de José Dirceu (PT-SP), ele ressaltou que o petista "foi altivo". "Em política, os meios não podem ser tortuosos. Não há nada de pessoal. Ela (cassação) aconteceria não pela pessoa José Dirceu, mas pela situação partidária."

Aos donos de jornais, Alckmin falou: "Na realidade, vejo muitos políticos indignados com a notícia, mas não vejo a mesma indignação com os fatos", disse, em almoço no Hotel Intercontinental.