Título: Sobra dinheiro para financiar imóvel
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

Mercado prevê que em 2006 volume de recursos nos bancos será o maior em 10 anos, o que deve ajudar a recuperar a economia

Depois de uma seqüência de resultados ruins nos últimos anos, o setor imobiliário começa a recuperar o fôlego com a maior oferta de financiamentos para a compra de imóveis. Com essa perspectiva, cresce a possibilidade de aumento na geração de empregos na construção civil, o que pode contribuir para a recuperação da economia. A expectativa do mercado é de que o valor dos financiamentos para a compra da casa própria em 2005 será o maior dos últimos dez anos. Só a Caixa Econômica Federal já emprestou R$ 6,121 bilhões até o último dia 21, mais do que o total de liberações de 2004, que atingiu R$ 5,8 bilhões. Nos bancos privados, os financiamentos com recursos da caderneta de poupança somaram R$ 3,257 bilhões até setembro, quase 60% mais que os R$ 2,049 bilhões de igual período do ano passado.

O Sindicato da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP) estima que o PIB do setor crescerá 4,8% este ano, graças ao dinamismo do setor imobiliário e também ao aquecimento dos negócios informais (pequenas obras, reformas e manutenção de imóveis). "O desempenho do setor de infra-estrutura está sendo pífio, os investimentos privados se mantêm estáveis e as obras públicas praticamente não existem", diz João Cláudio Robusti, presidente do Sinduscon-SP.

Depois de promover feirões para estimular a compra financiada de imóveis em grandes cidades de todo o País nos últimos meses, a Caixa volta amanhã, depois de 13 anos, a operar linhas de crédito imobiliário com dinheiro da caderneta de poupança. A instituição tem R$ 2 bilhões para essas linhas, e espera liberá-los até o fim do próximo ano. Além dos recursos novos da poupança, a Caixa ainda tem quase R$ 5 bilhões em verbas orçamentárias para financiar imóveis de até R$ 100 mil este ano. "A nova linha com recursos da poupança é um instrumento complementar, pois vai atender à demanda da classe média", diz Vera Lúcia Martins Vianna, superintendente nacional de habitação da Caixa.

Segundo o presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Romeu Chap Chap, pesquisas da entidade apontam para um crescimento de 25% nas vendas de imóveis na capital paulista este ano, em relação a 2004. No ano passado, foram vendidos em São Paulo 20.183 imóveis novos. "A perspectiva de ano eleitoral, com maior liberação de recursos para obras, combinada com a queda dos juros por causa da concorrência entre os bancos no credito imobiliário, deverá aquecer ainda mais os negócios do setor em 2006".

Além de ter de cumprir cotas, destinando 65% do volume de recursos captados na poupança para o crédito habitacional, os bancos têm se valido dos contratos habitacionais como instrumento de fidelização de clientes, já que os prazos dos financiamentos são de 10 a 20 anos.

Ao longo da duração do financiamento, o banco pode vender ao cliente vários produtos, como títulos de capitalização, seguros, consórcios, planos de previdência privada e outros empréstimos, aumentando os seus ganhos. "Essa concorrência mais acirrada deve acelerar a redução dos juros, reduzir as exigências na liberação do crédito e possivelmente ampliar o porcentual do valor do imóvel financiado", diz Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Com casamento marcado para maio, os advogados Luís Carlos Pereira da Silva e Sandra dos Santos Miranda assinaram na semana passada contrato com a Caixa para financiar a compra de um apartamento de dois dormitórios na Freguesia do Ó, zona norte da cidade. Eles deram R$ 20 mil de entrada e financiaram R$ 69 mil.

"Pode não ser um bom momento por causa da crise política, mas as condições são atraentes e nós vamos pagar por algo que será nosso e não um aluguel", diz a advogada, que, junto com o noivo, vai arcar com uma prestação inicial de R$ 1 mil por mês.

Além dos imóveis novos, as imobiliárias comemoram o aquecimento dos negócios com usados. No mês passado, as vendas de imóveis usados na cidade de São Paulo aumentaram 5,33% em relação a setembro, segundo pesquisa do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci). Outubro também foi o mês com maior número de vendas de imóveis usados com financiamento da Caixa - 23,12% do total.