Título: Mercado quer BC mais ousado no corte do juro
Autor: Gustavo Freire e Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) - que definiu corte de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros - trouxe um consenso ao mercado: a de que o Banco Central pode ter mais ousadia e cortar mais a taxa Selic na última reunião do ano. O mercado avalia que o corte pode ser de 0,75 ponto porcentual. Há uma dúvida: o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro, que, segundo o Banco Central, ficou acima do esperado. Para o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Troster, não há no horizonte nenhum risco de repique inflacionário, assim como não é possível admitir o prolongamento da desaceleração econômica, por causa do último resultado do Produto Interno Bruto (PIB). "A ata coloca bem as expectativas do mercado e mostra que há espaço para um corte de 0,75 ponto", afirma Troster.

O presidente da Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto (Andima), Alfredo Moraes, afirmou que a ata do Copom é, de fato, defasada, e não traz nada de novo. Entretanto, para Moraes, o BC, surpreendido pela queda do PIB do 3º trimestre deste ano, pode revisar o gradualismo no corte da Selic e reduzir 0,75 ponto na próxima reunião do Copom. "Com a queda do 3º trimestre e a revisão do segundo, certamente se abre espaço para corte", pondera.

"A ata foi fria, neutra, sem mostrar preocupação com o nível de atividade, até porque está defasada em relação ao PIB", salientou o economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto. Mesmo assim, segundo ele, o Banco Central ainda traça um cenário favorável para o setor.

"Ao avaliar o nível de atividade na ata, os diretores do Banco Central sempre colocam um entretanto e começam a avaliar o outro lado, que é a expectativa mais otimista", afirma Campos Neto.

Mesmo assim, o documento não trouxe sinais de que o Banco Central pretende acelerar a magnitude dos cortes da Selic, que nas duas últimas reuniões foi de 0,5 ponto porcentual. "Apesar disso, acredito que haja uma aceleração da redução para 0,75 ponto porcentual", afirmou.

O economista-chefe do Banco WestLB do Brasil, Adauto Lima, ressaltou o desconforto do Banco Central com o IPCA. "O Banco Central se sentiu desconfortável porque a inflação veio mais forte do que a esperada, mas eu acredito que seja apenas um repique", diz Lima, acrescentando que isso justifica a importância de avaliar os núcleos.