Título: Ata descarta queda rápida do juro
Autor: Gustavo Freire e Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem pelo Banco Central (BC, presidido por Henrique Meirelles), caiu como água fria nas expectativas do mercado sobre a aceleração da queda dos juros neste mês. Ao dizer que a inflação surpreendeu, por ter sido mais alta que o esperado, os diretores do BC indicaram que se manterão conservadores. A aposta em um corte mais ousado havia sido reforçada pela reação de integrantes do governo, do empresariado e do mercado à retração de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. Os ministros do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e do Planejamento, Paulo Bernardo, por exemplo, pediram cortes maiores nos juros.

A ata, porém, escrita antes da divulgação do PIB, diz que a economia vai se recuperar no fim do ano, depois de um setembro e um outubro fracos. Ou seja, os diretores do BC pareciam esperar o resultado negativo e não se impressionaram.

"O BC continua preocupado com a inflação e postergou uma possível queda mais rápida dos juros para março", disse o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas. A decisão, segundo ele, terá efeitos negativos sobre a atividade econômica no primeiro trimestre de 2006.

"Com a ata, os empresários vão postergar os investimentos para o segundo trimestre", afirmou Freitas, que já foi diretor do BC. O crescimento do PIB do próximo ano ficará, nesse cenário, em cerca de 3,5%, segundo o economista da CNC, também professor do Ibmec-Rio. "Na prática, teremos um crescimento de 3% porque cerca de 0,4% da expansão do PIB de 2005 passará para o próximo ano."

O economista do Itaú Joel Bogdanski concordou com a avaliação de Freitas sobre a possibilidade de aceleração das reduções de juros já neste mês. "O BC sinalizou que continuará conservador e manterá o ritmo de corte em apenas 0,50 ponto porcentual mesmo", disse.

FICA PARA 2006

O economista, no entanto, não descarta a hipótese de que os juros possam ser cortados em 0,75 ponto porcentual já em janeiro. "Como não haverá reunião do Copom em fevereiro, é possível que o BC tenha de tomar uma decisão mais perigosa em janeiro", observou.

A ata, na visão do economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, atenuou o fato de o PIB ter recuado no terceiro trimestre. Ele destacou que, no documento, o Copom revela otimismo com a possibilidade de a atividade econômica se recuperar nos próximos meses. "No parágrafo 19, diz que a atividade econômica deverá se recuperar nos próximos meses e continuar em expansão, em ritmo condizente com as condições."

Para Agostini, o Copom só vai acelerar a velocidade de redução dos juros em janeiro se tiver informação suficiente sobre o comportamento do PIB no último trimestre do ano. "Se os integrantes do Copom perceberem que o PIB virá negativo de novo, acho que poderá haver uma queda de 0,75 ponto porcentual em janeiro", disse.

O economista do Itaú contou que os diretores do BC que participaram de reunião ontem com analistas de mercado em São Paulo se esforçaram para mostrar tranqüilidade com o resultado do PIB. "Eles deixaram claro que o número do IBGE ainda pode ser revisto e não poderão tomar uma decisão sobre juros com base num dado provisório", disse.

Joel Bogdanski contou também que muitos participantes desse encontro trimestral de analistas entraram convictos de que a taxa de juros iria cair 0,75 ponto neste mês e saíram com a certeza de que o corte ficará mesmo nos 0,50 ponto porcentual.