Título: Reunião do Conselho vira ato contra o BC
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Economia & Negócios, p. B5

Irritado com o desempenho da economia no terceiro trimestre, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, deixou ontem o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, numa saia justa. O ministro presidia a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDEs) quando Skaf pediu para ler um manifesto com críticas aos juros, à carga tributária, ao câmbio e à falta de investimentos. O manifesto afirma que está em curso um processo de desindustrialização no País como conseqüência da política econômica. "É crucial reverter esse processo", afirmou. Wagner titubeou, demonstrando desejar apenas que o documento fosse distribuído aos integrantes do CDES, mas teve de ceder.

"Estamos perdendo a grande oportunidade de fazer um debate neste conselho, cujo nome é de desenvolvimento econômico e social", disse Skaf, tentando mudar a pauta da reunião, que era a política externa. "Diante da queda do PIB, a pauta tinha de ser alterada", disse, depois, em entrevista.

"Há uma teimosia tremenda em não ajustar a política econômica e isso está fazendo com que o Brasil não cresça mais que 2,5% este ano", enquanto outros emergentes crescem, em média, três vezes mais", afirmou, no pronunciamento.

Skaf cerrou fogo no juro, para ele o maior vilão da queda do PIB. Ele avalia que o Banco Central precisa acelerar o ritmo de queda na Selic e defende corte de dois pontos percentuais já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Caso contrário, o crescimento do País em 2006 também pode ficar comprometido.

O empresário Jorge Gerdau, do Grupo Gerdau, afirmou que o problema da política monetária tem sido a dosagem. Ele avalia que cortes maiores nos juros são inevitáveis. "O Banco Central vai precisar acelerar a queda dos juros para não prejudicar o crescimento econômico do próximo ano", sentenciou.

O presidente do Citibank, Gustavo Marin, tentou escapar da polêmica, mas também avaliou que a queda no PIB no terceiro trimestre deve levar a quedas mais fortes no juro. Depois, recuou e disse que a intensidade das reduções na Selic é atribuição do BC, a partir das análises sobre o futuro da inflação. "Mas a trajetória é de queda", completou.