Título: Queda no PIB é um alerta, diz Lula
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Economia & Negócios, p. B5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu ontem que não esperava um desempenho tão ruim na atividade econômica do terceiro trimestre de 2005. Anteontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a queda de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) do período, em relação ao segundo trimestre. Segundo Lula, esse porcentual trouxe um "alerta" ao governo de que se tornou necessário avaliar até que ponto a crise política e a taxa de juros elevada influenciaram nas decisões dos setores produtivos e consumidores. Ao lado da cassação do deputado Jose Dirceu (PT-SP), o dado foi lamentado pelo presidente na última reunião deste ano do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES, também conhecido como Conselhão). Lula, porém, deixou clara sua tendência de cautela na promoção de ajustes na área macroeconômica e valeu-se de mais uma metáfora para ilustrar seu ponto de vista. Aos conselheiros, afirmou que a Economia "é que nem Medicina". Se um médico operar o paciente sem conhecer o diagnóstico preciso, "não vai dar certo".

"O quarto trimestre certamente dará indícios fortes de que a economia vai continuar crescendo. Mas eu acho que nós precisamos definir claramente que nós entramos numa rota de redução dos juros, que a política cambial não mexeu no crescimento das exportações", afirmou. "O dado concreto é que o fato de o PIB ter decrescido é um alerta: olhe, vamos ver o que aconteceu direitinho, vamos ver o que a crise política e os juros têm de incidência nisso, vamos ver por que os empresários não fizeram os investimentos", declarou o presidente.

Diante de uma platéia esvaziada, o presidente não teve como escapar dessa questão. Por insistência do próprio Lula, a pauta do CDES estava orientada para a discussão da política externa brasileira. Mas mudou de rumo quando o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, criticou a política macroeconômica e denunciou, com a leitura de um manifesto, a "desindustrialização" do setor. O manifesto da Fiesp mudou o tom tedioso da reunião. Ao presidente Lula, coube reconhecer seu desapontamento com o desempenho da economia no terceiro trimestre, insistir que não há retorno na rota de "estabilidade e de desenvolvimento" em que o País ingressou e dar três recados pontuais.

Primeiro, que essa queda não justificaria pessimismo em relação a 2006. Segundo, que serão feitos reparos no que for preciso. Terceiro, que nesse ano eleitoral o governo não fará nenhuma "bondade desnecessária" que possa provocar prejuízo nos quatro anos seguintes.

"Quero que vocês saibam da minha decisão. Nenhuma atitude será tomada em função das eleições. Nenhuma atitude que possa cheirar para a sociedade brasileira que nós estamos fazendo aquilo que, secularmente, é feito no Brasil", completou, referindo-se a eventuais medidas populistas na economia.