Título: Ministros tentam salvar reunião
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Economia & Negócios, p. B8

Os ministros do Brasil, Estados Unidos, Europa, Índia e Japão se reúnem hoje e amanhã em Genebra para o que está sendo considerada a última e desesperada tentativa de salvar a reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Hong Kong neste mês. Ontem, o diretor da entidade, Pascal Lamy, divulgou uma nova versão do que poderá ser a declaração de Hong Kong. Mais uma vez, porém, o texto apenas confirma que não há acordo sobre quase nada e indica que uma nova reunião ministerial será necessária em 2006 para completar o trabalho. O encontro deste mês, portanto, seria apenas para relançar as negociações em 2006. Mas, para isso, todos concordam que o texto apresentado ontem não será suficiente, já que não resolve nenhum dos grandes problemas das negociações. "Precisamos dar substância a esse texto", afirmou um negociador. Para dar conteúdo à reunião de Hong Kong, os ministros dos cinco principais países nas negociações vão tentar um consenso entre hoje e amanhã sobre temas como agricultura e produtos industriais.

"Espero que esses países finalmente se entendam. Essa é a última chance", afirmou Amina Mohamed, presidente do Conselho Geral da OMC. Ela acredita, porém, que apenas um acordo entre os cinco países pode fazer com que o rascunho da declaração ministerial apresentado ontem seja modificado.

O texto atual aponta que, apesar da falta de consenso, uma das possibilidades seria a divisão dos cortes de tarifas para produtos agrícolas em quatro níveis. O princípio básico é de que, quanto maior a tarifa, maior o corte. O problema é que os países até agora não conseguiram acordo sobre quanto deve ser essa redução. Os europeus aceitam 39%, enquanto o Brasil quer 54%, em média. O texto, portanto, apenas indica que esse entendimento deve ser fechado em algum momento de 2006. "Nosso mercado está fechado. Não há mais espaço para concessões", disse um alto negociador europeu ao Estado.

No que se refere ao corte de subsídios domésticos, a divisão em três níveis também é indicada como possibilidade. O texto, porém, não fala na adoção de disciplinas para dificultar o uso de certos subsídios pelos países ricos. Quanto aos subsídios à exportação, o texto indica uma eliminação em data a ser definida.

Já no que se refere aos produtos industriais, o texto instrui os negociadores a fecharem uma estrutura do corte de tarifas usando uma fórmula que exigirá reduções mais profundas, mas reconhece a necessidade de dar certas flexibilidades aos países em desenvolvimento.

Diante da falta de acordo entre os governos, o texto apenas pede que um entendimento seja fechado em 2006.

O novo texto foi resultado de horas de reuniões e só foi concluído nas primeiras horas da madrugada de ontem. Ao ser distribuído, três seguranças armados vigiavam para permitir que apenas representantes de governos entrassem na sala onde estavam as cópias.