Título: Lula pede ajuda a Blair por avanços na OMC
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2005, Economia & Negócios, p. B8

Diante da possibilidade de a Rodada Doha naufragar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs ontem ao primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair, a realização de um encontro de "grandes líderes mundiais" antes da conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), entre os próximos dias 13 e 18. Lula argumentou que o acordo não avançará nas próximas discussões e que a solução deveria ser acertada pelos chefes de Estado dos principais países da OMC. A conversa foi relatada pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Na estratégia brasileira, Blair é a figura central. Atualmente, a Inglaterra responde pela presidência da União Européia e pela coordenação do G-7. "O primeiro-ministro não foi afirmativo. Mas reagiu positivamente e se dispôs a dar uma resposta", relatou Amorim.

O chanceler embarcou ontem para Genebra, onde participa hoje e amanhã de reunião com os ministros de Comércio da União Européia (UE), dos Estados Unidos e da Índia. Esse encontro é mais uma tentativa de pressionar a UE a ampliar sua oferta de abertura no mercado agrícola. A mesma questão deverá dominar parte da agenda dos ministros de Economia do G-7, que se reunirão amanhã em Londres. Desse encontro, participará o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Do ponto de vista do Brasil e do G-20 (economias em desenvolvimento que querem ampla abertura de mercados agrícola, eliminação de subsídios à exportação e das subvenções aos agropecuaristas), uma proposta européia mais ambiciosa é essencial para o avanço da Rodada. Sem isso, o Brasil e seus aliados não aumentariam as ofertas de abertura dos mercados industrial e de serviços. Os Estados Unidos, por sua vez, não cortariam mais os subsídios aos produtores, como é desejado. O resultado seria o fim da Rodada ou, na melhor das hipóteses, um resultado pífio.

"Não é possível que a redução nas tarifas de bens industriais dos países em desenvolvimento seja maior que o corte nas alíquotas dos produtos agrícolas dos países desenvolvidos", afirmou Amorim. "Isso seria um duplo desequilíbrio, uma injustiça que só agravaria o hiato entre países industrializados e em desenvolvimento e entre agricultura e indústria."

Durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o presidente ressaltou a dificuldade das negociações. "Não tem moleza nas negociações internacionais. Cada um está defendendo o seu mercado com unhas e dentes", afirmou Lula.