Título: Usineiros vão investigar mortes nos canaviais
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2005, Economia & Negócios, p. B15

A União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) anunciou vai analisar as causas da morte de 13 trabalhadores, desde abril do ano passado, em canaviais paulistas. De acordo com o diretor técnico Antonio de Pádua Rodrigues, a investigação será feita através de convênios com universidades. Ele disse que a entidade tem todo o interesse em saber se os óbitos apresentam alguma relação com o trabalho dos cortadores de cana. "Temos de conhecer melhor o que está ocorrendo antes de formular hipóteses." As mortes são investigadas também por uma força-tarefa de 13 organizações, entre elas o Ministério Público Federal, Ministério do Trabalho, Pastoral do Migrante e entidades de direitos humanos ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU). O primeiro óbito, de José Everaldo Galvão, de 38 anos, ocorreu em abril de 2004.

O último a morrer foi o cortador Antonio Ribeiro Lopes, de 55 anos, na quarta-feira, depois de passar mal quando trabalhava num canavial da usina Moreno, no município de Luiz Antonio. Ele foi sepultado anteontem, em Guariba. A empresa informou, através de nota, que Lopes foi contratado em 2000 por prazo indeterminado.

O ambulatório da usina o encaminhou ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, onde ele chegou morto. O médico responsável pelo exame do corpo declarou que o óbito foi causado por edema hemorrágico pulmonar, antecedido por cardiopatia dilatada descompensada (inchaço do coração) por causa do Mal de Chagas.

SEM PRECIPITAÇÃO

Ontem, um grupo de investigação do Ministério do Trabalho ouviu parentes e colegas do morto. Também foram requisitadas suas fichas médicas. Em comunicado, a Unica alertou para os riscos de conclusões precipitadas e lembrou que, antes, é preciso estudar em detalhes as circunstâncias e os fatores envolvidos em cada caso.

A Polícia Civil de Araçuaí, em Minas Gerais, adiou para terça-feira a exumação do corpo de José Mario Alves Gomes, de 45 anos, morto no município paulista de Rio das Pedras, dia 21 de outubro, depois de passar mal no canavial. De acordo com o delegado Alberto Tadeu Cardoso de Oliveira, o adiamento foi pedido pelo Instituto Médico Legal de Belo Horizonte, em razão da agenda do médico legista. A exumação foi requerida pelo procurador federal da 5ª Região do Ministério do Trabalho, Aparício Salomão, que espera saber se a morte foi causada pelo cansaço excessivo.