Título: Mercadante alerta para risco de descontrole
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2005, Economia & Negócios, p. B16

Senador vê perigo em manter o juro tão alto e o dólar tão baixo

A manutenção de taxas de juros reais elevadas e do real valorizado por longo período pode impor uma desvalorização descontrolada da moeda no futuro. O alerta foi feito pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), em artigo para o livro Economia Brasileira, Perspectiva do Desenvolvimento, editado pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC), da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Mercadante, que é professor de Economia licenciado da Unicamp e da PUC-São Paulo, acha, no entanto, que o governo não deve fazer uma mudança brusca dos juros e da taxa de câmbio, por acreditar que isso pode perturbar consideravelmente os mercados financeiros e a conta final do balanço de pagamentos do País. Para ele, "a solução dessa difícil equação passa por um processo de reversão gradual das tendências em curso e pelo fortalecimento da economia real, especialmente dos investimentos estruturantes que dinamizem e sustentem seu crescimento. Só assim será possível desatar este nó com custos sociais e econômicos administráveis".

Também em artigo para o livro, o deputado Delfim Netto (PMDB-SP), um dos principais interlocutores dos ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo, propõe uma política alternativa, que teria basicamente seis componentes: um forte corte das despesas públicas, a redução do grau de vinculações orçamentárias, a eliminação do déficit nominal, a redução rápida dos juros, com a conseqüente desvalorização do real, a eliminação dos impostos sobre os investimentos e a criação de zonas especiais de exportação.

O objetivo do livro, segundo o presidente do CAVC, Pedro Mercadante Oliva, filho de Aloizio Mercadante, é retomar o debate sobre o desenvolvimento econômico e social que ficou relegado no Brasil, durante um longo tempo, a um segundo plano.

Na apresentação do livro, Pedro Oliva queixa-se da carência de uma bibliografia "atual e plural" que discuta o desenvolvimento e do "limitado espaço em aula para o debate desse tema". Para ele, essa discussão deve ser ampliada e se tornar central para os estudantes de Economia no Brasil.

Os organizadores do livro convidaram representantes de várias correntes do pensamento econômico do País para redigir textos sobre o tema do desenvolvimento. Mas deixaram de fora os economistas identificados com o que se convencionou chamar de "neoliberalismo". Além de Mercadante e de Delfim, o livro conta com artigos do ex-presidente do BNDES Carlos Lessa, dos economistas Eduardo Haddad, José Eli da Veiga, José Roberto Mendonça de Barros, Mônica Baer, Leda Maria Paulani, Marcio Pochmann e Ricardo Abramovay.