Título: Varejo virtual prevê expansão forte
Autor: Renato Cruz, Lilian Primi
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2005, Economia & Negócios, p. B20

Expansão do acesso rápido à internet e computadores mais baratos incentivam os negócios pela rede mundial

"Hoje, os melhores negócios estão na internet", afirma Cid Torquato, diretor-executivo da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net). O varejo virtual deve movimentar R$ 9,8 bilhões no País este ano, um crescimento de 30% sobre 2004, segundo estudo da E-Consulting. A Lafis Consultoria, por sua vez, projeta um avanço de 40%, para R$ 10,5 bilhões. Os valores incluem automóveis, viagens e bens de consumo. A câmara prevê expansão de 50% das vendas neste Natal, sobre os R$ 284 milhões faturados em 2004. "Acredito em até mais que 50%", diz Torquato. O comércio eletrônico entra numa fase nunca vista de expansão que começa no Natal e se estende pelos próximos anos. "2006 e 2007 vão ser impressionantes", destacou o diretor da Camara-e.net. Um dos motivos é o crescimento da banda larga, com a competição mais forte entre operadoras de telecomunicações e empresas de TV a cabo, que baixaram preços e aumentaram velocidades. Isto deve ajudar a transformar usuários da internet que não compram pela rede em consumidores virtuais. Outros motivos são a queda dos preços dos computadores, com a redução de impostos e a valorização do real frente ao dólar, e os planos populares de telefonia fixa, que serão obrigatórios para as operadoras no ano que vem. A tecnologia mais acessível deve ampliar a base de assinantes.

O Comitê Gestor da Internet no Brasil divulgou semana passada um estudo da Ipsos Opinion mostrando que 24% dos brasileiros acima de 10 anos usaram a internet nos últimos 3 meses. Apesar disso, apenas 6,38% da população fez compras pela internet em 12 meses, o que equivale a 20% dos que acessaram a rede no período. Ou seja, há muito o que crescer, ainda que a base de assinantes ficasse estagnada - o que não deve ocorrer.

A maturidade dos sites e o apoio dos bancos a negociações seguras também incentivam as vendas. "Com taxas de crescimento acentuadas, os grandes sites de varejo têm se preocupado em se tornar um local confortável para o consumidor", afirma Marcio Boaijion, diretor de Vendas da América Latina da Global Market Insite (GMI), empresa que fornece software e serviços para pesquisas.

Torquato, da Camara-e.net, destaca o número crescente de pequenas empresas que abraçam o comércio eletrônico. "Existem 5 mil empresas que já aceitam o cartão de crédito como meio de pagamento e mais 10 mil que recebem de outras formas", disse o executivo. "No comércio entre empresas, existem 300 mil que fazem alguma forma de negócio, nem que seja comprar material de escritório via internet."

Elaine Eli Pulzatto, dona de um pequeno comércio, descobriu as vantagens da internet. Vende sapatos adultos de Birigüi para todo o País. "A inadimplência aqui é zero." Com um faturamento mensal maior que R$ 30 mil, conta com 5 funcionários e consegue competir com grandes magazines. "Vendemos mais barato porque vendemos muito, apesar de estarmos numa cidade com pouco mais de 100 mil habitantes."

No início, a vendedora usava exclusivamente o Mercado Livre, site de compras e vendas, para oferecer seus produtos. Hoje, também tem um site próprio, chamado ECPortal. Os cincos funcionários cuidam do atendimento e do estoque. "Jamais anunciamos um produto que não esteja em estoque", explicou. "Os clientes virtuais são sempre ansiosos, e se a entrega demora, há risco de perder a venda."

A Lafis Consultoria prevê um crescimento menor que a Camara-e.net para as vendas de Natal. O analista Bruno Gomes Leite acredita que as vendas virtuais entre 15 de novembro e 23 de dezembro devam somar R$ 390 milhões este ano, uma alta de 37,3% sobre o ano passado. O otimismo quanto ao próximo ano, no entanto, é o mesmo. "Com certeza, a expansão do comércio eletrônico no próximo ano será maior."

Atividade secundária vira bom negócio

CONECTADO: Assistente comercial autônomo, Glauco Alves de Oliveira vendia acessórios para carros nas horas vagas, "para complementar a renda". Ele mantinha uma página na internet para divulgar os produtos e anunciava no jornal Primeira Mão. E vendia.

Com o tempo, o número de consultas via internet começou a aumentar e ele achou que a venda online poderia ser mais interessante. Passou a vender pelo Mercado Livre, que oferece a plataforma segura para vendedores como ele a um custo de 5% do faturamento. No primeiro mês, vendeu R$ 600, o mesmo que conseguia com o Primeira Mão.

Hoje, fatura R$ 18 mil por mês com a venda de produtos que nem sempre se destacam pela utilidade. O carro-chefe, por exemplo, é o "turbo virtual", que faz o barulho do motor do carro parecer turbo. Tem também pedaleira cromada, som, roda, manopla.

Além da comissão de 5%, paga mais R$ 27 para anunciar durante o mês todo, com destaque. "Deixei o Primeira Mão quando eles passaram a cobrar pelo anúncio". Ele recebe os pagamentos via depósito bancário: "Não há a menor possibilidade de inadimplência, porque só entrego o produto quando recebo a confirmação do depósito". Se o comprovante chegar até às 15h, o pedido sai no mesmo dia. "Dependendo de onde a pessoa estiver, chega no dia seguinte", disse.

Oliveira mantém quatro funcionários e um portal próprio. Ele ainda tem a loja de verdade, que será fechada: "Vou usar como depósito, essencial na venda online".